Naquele tempo em que eu era pequenino e o Pai Natal ainda não tinha sido inventado, havia um menino que estranhamente nascia todos os anos no mesmo dia e à mesma hora. Esse menino chamava-se Menino Jesus e nascia no dia vinte e quatro de Dezembro à meia noite, na noite de Natal.
Segundo dizia a minha avó, que Deus tem, esse simpático menino, que nascia todos os anos à mesma hora e no mesmo dia, mal acabava de nascer entrava em todas as casas para deixar um prendinha aos meninos e meninas que se portassem bem. Na casa dos ricos entrava pela chaminé e na casa dos pobres entrava pelo buraco da fechadura ou pelos buracos existentes nas paredes, que deixavam passar muito frio,depositando a suas prendinhas, junto à lareira nos sapatinhos ou tamanquinhos que os meninos e meninas lá deixavam na noite anterior, depois da Ceia de Natal em que estranhamente até os meus tios iam do Porto, de lá tão longe, para comer connosco e era uma festa muito grande, com bacalhau, rabanadas docinhas, formigos, sarrabulho doce e tudo mais.
Claro que eu teimosamente deitava-me no preguiceiro, junto à lareira à espera do tal Menino Jesus que me ia trazer uma prendinha, pois eu tinha-me portado bem, nos últimos dias, só que o soninho aparecia muito antes e eu só acordava no dia seguinte, na minha cama, depois da chegada da minha avó, que se levantava muito cedo para ir à missa das sete. A essa hora, já o menino se tinha ido embora, pois tinha muito que fazer naquela noite e eu ficava triste por não conseguir conhecê-Lo.
Num ano eu que eu já era crescidote, resolvi pregar uma partida à minha avó e ao Menino Jesus. Na véspera do tal dia de Natal, quis ir para a cama mais cedo, por mais que minha avó estranhasse. Até pensou que eu estaria doente. Talvez as rabanadas ou os formigos tivessem levado açúcar em demasia. Ou o sarrabulho doce, petisco que eu adorava, tenha levado um pouco mais de vinho fino.
Assim, no dia de Natal, mal a minha avó, saiu para ir à missa das sete, eu, descalço e de mansinho para não acordar os meus irmãos, abri a porta, atravessei o quinteiro, ainda húmido da geada e fui à cozinha espreitar o meu tamanquinho rapelho, que deixara junto á lareira na noite anterior. O Tamanquinho estava lá, mas prenda, nem vê-la. Fiquei muito triste e aflito, afinal o Menino Jesus não viera a nossa casa, mas eu tinha-me portado bem ! Lá isso é que tinha ! já não fazia chichi na cama e comia o caldo todo.
Quando minha avó chegou da missa, sai-lhe ao caminho, dizendo com voz triste: O Vó o menino Jesus não veio esta noite. Não há prendas para ninguém.
Responde-me ela, com um brilho maroto nos olhos. Atrasou-se um bocadinho, mas cruzou-se comigo ali no caminho, ao fundo da leira da figueira. Aqui está a tua prendinha.
Uma regueifa bem quentinha. A prenda de todos os anos da minha avó e madrinha.
UM SANTO E FELIZ NATAL PARA TODOS OS CAMARADAS E SUAS FAMÍLIAS
Zé Teixeira
Zé Teixeira
Pois é Zé. Eu não lembro se era PN ou MJ. mas lembro que havia um barulho enorme, normalmente feito pela minha avó, soube-o mais tarde, claro,e o brinquedo que recebia, normalmente daqueles de folheta e de corda era para eu olhar e ficar guardado o resto dos anos. Meu sobrinho, com 8 anos de diferença e quando eu já era menino e meio é que gozou daqueles brinquedos do meu Natal.
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