sexta-feira, 29 de maio de 2009

P180-As crianças guineense operadas no Porto

Temos vindo a acompanhar com enorme interesse a evolução das crianças que vieram de Bissau para serem operadas ao coração e à volta das quais se gerou um genuinamente sentido movimento de solidariedade por parte da Tabanca de Matosinhos.
Para alem do surgimento espontâneo da Bolsa de Famílias de Acolhimento de futuros crianças que tenham de se deslocar a Portugal para receberem tratamento especializado, temos vindo semanalmente a angariar fundos para ajudar a árdua tarefa de curar sem meios tantas crianças doentes que recorrem à Clínica Pediátrica de Bor.
Segue-se a noticia com a devida vénia da Sic Noticias sobre o caso e que gostaríamos de partilhar convosco:

quinta-feira, 28 de maio de 2009

P179(a) - Recordação do Alferes




Falam-me de tempo. Já nem me lembro há quanto tempo foi mas foi muito.
Tinha, naquele tempo, a tranquilidade intranquila dos jovens e uns dezassete anos mal feitos. O meu corpo fino, sempre que alguma folga mo permitia, dançava no empedrado dos passeios, saia rodada, camisa de alças escorrendo pelo ombro direito, sandálias rasas, prisioneira de uns óculos escuros, muito anos 60. Voltava do liceu debaixo dum sol escaldante, rasgava a garganta com o frio dum gelado e ouvia-o falar de guerra enquanto lambuzava as mãos nos pingos do gelado que ele me comprara e que não resistia ao calor.
Ainda lhe vejo a figura com pormenor: Uma espécie de bola com pouco mais do que o meu metro e cinquenta e cinco de altura, óculos redondos na ponta do nariz, farda verde e bivaque. Era alferes, nascera em Aveiro, salvara-se a tempo de um seminário que o condenaria a um sacerdócio escusado, cursara filosofia e sorria sempre que me acompanhava.
Eu, pouco atenta, (orgulhosa do namorado mais velho e de patente) descrevia em pormenor (e numa linguagem por vezes interdita) os eventos do dia, detalhando as cores dos pirolitos do intervalo grande ou o número de cigarros fumados na casa de banho, nesse mesmo intervalo.
Ele dizia-me que os cigarros me faziam mal à saúde e pedia para nos sentarmos na esplanada da Princesa. Eu sentava-me, enrolava as pernas bronzeadas debaixo da cadeira e via, sem entender bem, a preocupação com que desviava o olhar da nesga de coxa provavelmente visível, prosseguia a minha história, (porque tinha sempre uma história para contar) e despejava para cima dele umas quantas mentiras quando, ansioso, perguntava se ainda gostava do tal colega a quem eu, tempos antes, lhe declarara oficialmente como sendo o homem da minha vida. Que não, respondia eu, o amor não acontecera, porque afinal na vida tudo era relativo, até o amor.
Então ele ria, aproximava um suspiro e perguntava quando podia visitar-me em casa, formalizar o que havia entre mim e ele, com o responsável consentimento paterno.
Era então a minha vez de entreabrir a boca num sopro e ficava congelada no abraço daquele sol africano. Olhava-o e dentro de mim não sabia exactamente quando aqueles encontros se iriam desfazer.
Nos seus pensamentos tudo fazia sentido, afinal eu estava a um passo da faculdade e ele já abandonara o seminário e a sua própria universidade. Uma Vida à minha espera, dizia ele, eu, olhava-o com o sono de quem se levanta às seis horas da manhã, e congelava ao toque da mão que me estendia um pastel de nata para colmatar um lanche não resolvido com o gelado e aproveitar sorrateira e respeitosamente para me tocar a mão.
.Nos seus pensamentos tudo fazia sentido, nos meus, também, mas um sentido contrário. “Não tenho coração”, pensava eu quando ele me deixava
perto da minha casa, depois de darmos de raspão uma última mirada às águas tranquilas do Índico.
Achava ridícula a conversa e sorria envergonhada da minha atitude fútil e parva e da forma como o fazia desperdiçar o tempo na esperança de um Amor que no meu caso se escrevia com “a” minúsculo.
Decidi então que num dia próximo, quando ele me fosse buscar de carro à explicação de alemão, encheria o peito de ar e dir-lhe-ia que o seu nome não cabia na estranheza da minha história.
Mas ele queria factos concretos e sorriu achando que era mais uma brincadeira saída da minha cabeça em tempestade, mergulhou na imensa certeza do seu amor, viu em mim a imagem de uma menina mulher, arranjou um nome para explicar a ilegitimidade das minhas experiências, concentrou-se nos meus verdes, apostou em me dar do mundo uma outra fotografia e rumou para a minha casa.
No jardim havia duas acácias grandes, prenhes de flores, de uma copa perfeita. Ao fundo o mar. Sentado em contemplação, o meu pai tomava o drink do final do dia. Havia uma espécie de moldura de felicidade comum às horas mágicas do anoitecer africano.
Na rua, eu à beira de um sobressalto sísmico, com o coração cada vez mais longe daquela ideia de amor e felicidade, ouvindo até o respirar das folhas caindo na relva, pensei no exercício penoso de sobrevivência que me esperava e disse-lhe. “ vou contar-te tudo, sem mentir, enquanto o sol não se põe.”
E contei tudo, em voz baixa, grave, dizendo que afinal o Amor tem este grau de incompreensão que eu considero inatingível”.
A noite caiu, as nuvens deixaram-me contemplar a lua e os seus reflexos na água. De dentro da casa saía o som do BLUE MOON..
Com o avançar da música entrei já sem máscara mas sentindo que o silêncio cá fora era uma estranha forma de paz.
Naquela noite, aos dezassete anos de idade, não perdi o coração mas fiquei com a boca a saber a uma realidade diferente… Cresci um pouco!
Clara Roque Esteves

P179-Um vaso de Flores


No domingo passado eu e o Pimentel fomos até Lisboa. Estivemos em casa de uma amiga dele. Falámos, falámos, contámos, contámos... Eu contei uma coisa que alguns já saberão, mas quem não souber pode ler aqui http://blogueforanada.blogspot.com/2005/11/guin-6374-cccxx-professora-de-samba.html
E essa amiga disse que, a propósito, ia fazer um poema. Já o enviou, a mim e ao Pimentel. Perguntei-lhe se o podia dar a ler na Tabanca de Matosinhos e ela disse que sim. É este:

Um vaso de Flores

Para ser homem
Enrolei sílabas clandestinas
Embandeirei sonhos em sobressalto
Entrincheirei o vento na raiz do sangue
Semeei a semente derradeira
E não encontrei pétalas.
Abri cada minuto do meu tempo
Ocultando palavras em campos minados
E desocupei silêncios sem disfarce de temor.

Para ser homem
Esventrei savanas numa geografia de luta
Esfumei revoltas em bares
Num gesto escravo de emaranhadas teias.
Adiei a vida vezes sem conta
Instalei residência em terras em chama
E com os pés nus,
Na esperança de descobrir mistérios indecifráveis,
Entre a esperança e o desejo
Fui escavando o carvão da resistência.

Um dia, aproximei-me do abismo
E num minuto sem sabor a nada,
Num idioma de rosto ferido
Ficámos olhos nos olhos
Separados por um vaso de flores.

Era a hora dos sonhos enlutados
A escorrer de um sonho de menina
A morte encarava os corredores do infinito.
Num vaso de flores encontrei a dimensão da Vida
Tapei o firmamento da minha pátria
Encostei-me a um luar sem luz
E acrescentei o meu desassossego
Antes que a escuridão me avassalasse.

As flores não murcharam no vaso
E do seu rosto não saiu a minha madrugada
A seiva ficou no chão
Numa funda transparência de vertigem.
Eu, homem, descobri que a morte também beija
E que ser homem cava séculos de silêncios e de cinzas.

Clara Roque Esteves

quinta-feira, 21 de maio de 2009

P177- Mais uma quarta bem animada

Fomos 35 nesta última quarta-feira. Os números continuam a revelar bem o sucesso que estas confraternizações continuam a ter. A animação, a alegria, o convívio são indescritíveis.
Realmente só lá, podemos falar das nossas fugas, das nossas emboscadas, das nossas horas de medo das nossas privações e até dos nossos actos de que mais nos orgulhamos.
A plateia é a ideal, fala a mesma língua, reconhece as nossas frases, identifica-se com os nossos sentimentos e o resultado é esta espécie de terapia colectiva que semanalmente, se vive naquela sala dos fundos do restaurante Milho-Rei.
Depois tivemos a comemoração dos aniversários do Xico Allen e do Joaquim Almeida, por isso o tradicional bolo e o champanhe não puderam faltar.
Para ajudar à festa, o nosso Zé Manel trouxe Vinho do Porto (do especial), aguardente velha e cerejas da Régua.
Imaginem!!... foi um fartar vilanagem.
Que boas memórias nos ficam sempre destas quartas-feiras !!!
Ficam aqui alguns momentos retratados:

Um grupo bem animado:
à esquerda o Zé Teixeira, o Victor, o Valentim que desta vez esteve presente e o Jorge Cruz. à direita o Delfim Santos, o Lobo e os dois Joaquins Almeida


O Marques Lopes a "vender uma camionete" à Lucinda e o Dr. Fernando com cara de que não está muito convencido da "utilidade da camionete"

Aspecto da ala esquerda com o Pires em primeiro plano a "regar" as sardinhas que por sinal estavam óptimas


O Manuel Guedes Vieira que esteve no Xime entre 72 e 74 e que nos visitava pela primeira vez, ao lado do David Guimarães do Batista e do Carlos Costa

Os nossos quatro PelRec's de serviço, o João Rocha, o Artur Rego, o Fern. Gouveia o Ant. Pimentel.
Lá mais ao fundo o Barroso debate-se com o resto das sardinhas

Mais uma vista geral das três alas da mesa

O magnífico bolo de aniversário oferta do "Custóias" com o símbolo da Tabanca de Matosinhos

Os aniversariantes em pose pouco recomendável para veteranos de guerra... mas felizes.

Dois amigos inseparáveis desde os tempos da Guiné, o Zé Manel e o Carvalho

Três grandes amigos ex-enfermeiros: O Carvalho, o Zé Teixeira e o Victor.

Uma prenda do Carlos Costa aos presentes
cliquem para ouvirem e verem

NOTA:Fotos e vídeo do Portojo e do Carmelita a quem agradecemos a sua disponibilização

segunda-feira, 18 de maio de 2009

P176-Congresso dos Combatentes

Já manifestei a minha discordância sobre a "mistura", que não me parece ser a melhor forma de tratar os problemas dos ex-combatentes na guerra colonial. De qualquer modo, transmito a  informação da AOFA (Associação de Oficiais das Forças Armadas) sobre este Congresso. Para quem quizer saber, ou participar. É democrático.
A. Marques Lopes

CONGRESSO DOS COMBATENTES

10 E 11 DE JUNHO DE 2009 

Apresentação de comunicações até 19 de Maio

Inscrições até 30 de Maio

Do antecedente, uma Comissão Executiva, presidida, em rotação pelos três Ramos, por um Oficial General, vem organizando, anualmente, junto do respectivo Monumento, em Belém/Lisboa, o “Encontro de Combatentes”, em que se honra a memória dos nossos Mortos e se procura projectar, para o futuro, os Valores que os levaram ao supremo sacrifício de darem as suas vidas ao serviço das Forças Armadas. 

Entretanto, ao longo do tempo, a troca de impressões ocorrida nesses Encontros anuais, nas confraternizações promovidas ao longo do País pelos ex-combatentes, nas reuniões, formais (como estas do Encontro) ou informais, entre associações de antigos e actuais combatentes e no próprio debate interno de cada uma destas organizações, tornaram cada vez mais evidente a necessidade de se levar a cabo uma iniciativa que trouxesse para a opinião pública os problemas e preocupações comuns a um tão vasto universo, face à sensação do abandono a que têm sido votados por parte de sucessivos Governos, pese embora uma ou outra medida que vai sendo tomada. 

Para a AOFA, o interesse desse projecto, posteriormente designado como “Congresso dos Combatentes”, foi evidente desde o princípio, pois, a concretizar-se, permitiria, para além disso, tornar mais compreensível junto da sociedade civil os objectivos específicos que persegue, uma vez que passaria a contar com o melhor conhecimento que deles começariam a ter cerca de um milhão de veteranos e respectivas famílias. 

A AOFA ajudou de forma decidida a corporizar a ideia central que, desde sempre, vem presidindo aos trabalhos: não haverá juízos de valor sobre as guerras (passadas, presentes e futuras), mas apenas a afirmação pública do que foi escolhido como lema do Congresso “Pelo Reconhecimento e Dignificação dos que serviram e servem nas Forças Armadas”, apoiada nas conclusões a que for possível chegar. 

Entretanto, de forma persistente, foram-se dando passos no sentido de trazer para a iniciativa o maior número possível de organizações representativas dos combatentes. 

Neste momento, estão concordantes com o Congresso, participando nas reuniões preparatórias: Liga dos Combatentes, AOFA, ASMIR, ANS, APA, ADFA, Associação de Comandos, Associação de Fuzileiros, Associação de Operações Especiais, Associação de Grupos Especiais e de Grupos Especiais Pára-quedistas, Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra, Associação da Força Aérea Portuguesa, Associação 25 de Abril, Federação Portuguesa de Associações de Combatentes (agregando: Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar, Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra, Associação Social e Cultural de Ex-Combatentes de Vila do Conde, Associação Portuguesa de Ex-Combatentes Militares, Associação de Ex-Combatentes Beirões, APOIAR). 

Encontram-se bem encaminhadas as conversações com dirigentes das organizações representantes dos Pára-quedistas, através da União Portuguesa de Pára-quedistas.

Foi criada uma Comissão Executiva, votada a partir da proposta do Presidente da Federação Portuguesa de Associações de Combatentes e, pela ordem em que as enunciou, composta por: AOFA, ANS, APA, Liga dos Combatentes, Associação de Comandos, Associação 25 de Abril, Federação Portuguesa de Associações de Combatentes. 

Essa Comissão já chegou às seguintes decisões sobre o Congresso: 

Dia 10 de Junho, 18H30 – Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa – Abertura Solene (com discurso proferido pelo Presidente do Congresso) e Porto de Honra (Preço de 2,5 euros por pessoa) 

Dia 11 de Junho, a partir das 09H00 – Fórum Lisboa (antigo cinema Roma, instalações da Assembleia Municipal da Câmara Municipal de Lisboa), Av. de Roma, Lisboa:

09H00 – Recepção

09H30 – Abertura

10H00 – Tema “Cidadania e Defesa” (os nossos direitos e deveres, mas, também, o papel que desempenhámos – por exemplo, língua unificadora, em África -ou desempenhamos – normalização democrática, ainda como exemplo)

12H00 – Intervalo para almoço (da responsabilidade de cada participante)

13H30 – Tema “Saúde” (para nós: Hospitais e Assistência na Doença aos Militares)

15H30 – Tema “Apoio Social” (para nós: interesse especial na Acção Social Complementar)

17H30 – Conclusões

18H00 – Encerramento 

Extractos do Regulamento do Congresso:

-Poderão apresentar comunicações as associações participantes e, através destas, quem sirva ou tenha servido nas Forças Armadas;

-As comunicações deverão dar entrada nas associações até 18 de Maio próximo, que as reencaminharão de imediato, para o Secretariado do Congresso;

-Cada comunicação deve ser enviada em suporte digital, preferencialmente por “mail”, e não deverá exceder as 6 páginas de A4 (se não houver possibilidades disso, em alternativa, serão aceites em papel);

-As comunicações deverão ser separadas pelos temas do Congresso: “Cidadania e Defesa”, Saúde e Apoio Social;

-A Comissão Executiva escolheu um Relator por cada tema, que, depois de concluída a remessa para o Secretariado do Congresso, fará uma síntese das comunicações apresentadas, que não deve exceder as 10 páginas de A4 e encerrará com uma conclusão;

-Já no Congresso, os Relatores farão uma exposição oral da sua síntese, que não deve exceder os 15 minutos;

-A seguir aos Relatores poderão intervir, mediante inscrição na altura, os autores das comunicações e demais participantes no Congresso, que não poderão exceder os 5 minutos;

-Imediatamente antes do Encerramento e tendo por base os textos dos Relatores e das intervenções, o Presidente da mesa do último tema lerá ou mandará ler uma “Súmula Conclusiva”;

-Os participantes no Congresso deverão inscrever-se nas respectivas associações até 30 de Maio (sendo particularmente relevante a informação sobre a sua presença no Porto de Honra).   

 

domingo, 17 de maio de 2009

P175-Parabéns a você


Na semana passada, mais concretamente na sexta-feira, o nosso camarada Joaquim Almeida (Custóias) cumpriu o seu 66º aniversário. Companheiro inseparável das nossas almoçaradas, esteve recentemente doente mas felizmente está já tudo debelado e na próxima quarta-feira não vai escapar à nossa ruidosa e desafinada cantoria dos "parabéns a você".

E já que estamos em maré de aniversário aqui fica a nota de que o Xico Allen, o nosso querido "sempre-em-pé" faz 59 "lindas primaveras" na próxima terça-feira dia 19.

Preparem-se pois meus caros tertulianos que na próxima quarta teremos bolo a dobrar.
Como se costuma dizer... por muitos anos e que a gente os vá contando..
Álvaro Basto

P173-A Festa do Zé Firmino

Com o nosso pedido de desculpas pelo atraso na publicação, aqui fica o testemunho deixado pelo nosso tertuliano José Firmino da sua festa convívio anual.

ALMOÇO CONVÍVIO DO BAT.CAÇ.2884 (MAIS ALTO)


Teve lugar no passado dia 2009-05-09 em S.PEDRO do SUL o XIX convívio Anual com recepção no LARGO da CÂMARA MUNICIPAL, por volta das 11h00. Uns e outros chegados com cabelos já brancos, e alguns quilitos a mais após os cumprimentos da praxe do contar de algumas histórias que são muitas nos tempos vividos naquela EX.PROVÍNCIA ULTRAMARINA da GUINÉ enquanto militares, sempre valentes e corajosos tantas vezes ignorados jamais esquecidos. Por volta das 12h30 já com parte da conversa em dia rumamos à IGREJA de BORDONHOS no local a traz citado onde todos assistimos à celebração da santa Missa por alma dos camaradas já falecidos. Tratadas que estavam as almas, convite para cuidar os estômagos com o almoço convívio servido e bem na CASA do PAÇO de BORDONHOS em S.PEDRO do SUL onde nada faltou até a boa disposição que sempre deve reinar em nossos corações. Depois dos estômagos aconchegados as gargantas regadas com tinto, branco, sumos, ou mesmo água. Seguiu-se a escolha do local para o XX convívio que será na CIDADE da GUARDA onde esperamos todos poder estar novamente com saúde paz e alegria Termino com um bem aja ao (ORGANIZADOR PINTO DA COSTA). Da minha parte fica aquele Abraço.
FIRMINO.


Bolo comemorativo

Ex.Furri.Lino ladeado pelo zé carlos (Famalicão)

Para mais tarde recordar

Pascoal,Régua,Ex.Alf.Ferreira

Vieira Pinto e o Lma

Vieira Pinto e o Montemor

terça-feira, 5 de maio de 2009

167-XVI Encontro Nacional e I Congresso dos Combatentes


Saíu no "Diário de Notícias" de 6 de Fevereiro de 2009:

«Diversas associações de antigos combatentes e de militares dos actuais quadros permanentes estão a preparar um "Congresso dos Combatentes", em Lisboa, e que é o primeiro desde o fim da guerra colonial.

"Pretendemos que se comece a tratar as coisas frontalmente. Não podemos esquecer os veteranos que ainda estão vivos" e muitos deles deficientes de guerra, explicou ao DN o presidente da Federação Portuguesa das Associações de Combatentes, António Ferraz. A sessão de abertura do Congresso, que vai centrar-se no "reconhecimento e dignidade aos que serviram e servem as Forças Armadas", está marcada para o dia 10 de Junho, em Lisboa, data em que são homenageados - à margem das comemorações oficiais do Dia de Portugal - os mortos junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar (na Torre de Belém). Esta cerimónia, este ano, está a cargo de uma comissão presidida pelo general Tomé Pinto.

Conhecendo-se as dificuldades de relacionamento institucional e pessoal existentes no universo dos veteranos de guerra, diferentes fontes sublinharam ao DN que há um esforço de aproximação e unidade entre todos os intervenientes, nos bastidores, para evitar que a lógica reivindicativa do Congresso afecte a homenagem aos mortos - e para que a defesa dos interesses dos combatentes deixe de se cingir aos da guerra colonial, passando a incluir os que têm participado nas chamadas "novas missões de paz" (Bósnia, Kosovo, Afeganistão, Timor) desde a década de 90.

"Combatentes são todos" e o 10 de Junho "não é o momento de fazer reivindicações", referiu ontem o general Tomé Pinto, que agendou uma reunião para acertar agulhas e pedir sugestões, no próximo dia 18, com as associações de combatentes e as socio-profissionais de oficiais (AOFA), sargentos (ANS) e praças da Armada (APA).

Esta reunião vai dar sequência ao encontro que juntou aquelas associações - mas não a Liga dos Combatentes (LC) - no final de Janeiro, em Oeiras, e onde se formalizou a realização do Congresso. Noutro exemplo do esforço de união em curso, António Ferraz adiantou que já foi decidido convidar a quase centenária LC para se associar aos trabalhos do Congresso - o que dará ao evento, segundo uma das fontes, outra dimensão e importância.» 

O que é que eu acho

Primeiramente, mais uma vez vai fazer uma intervenção junto ao Monumento dos Combatentes alguém que não viveu o que os combatentes sentiram. O Prof. Dr. Manuel Braga da Cruz é um académico reputado, um estudiosos da História e dignatário em muitos organismos oficiais e religiosos. Mas não foi um combatente, depreendo, pois Licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica, em  1968, e foi bolseiro do Instituto de Alta Cultura em Itália, entre 1970 e 1974, tendo-se licenciado em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Gregoriana de Roma. A guerra dele foi outra, pois. O seu discurso será bonito, acredito, mas ficará no vazio.
Depois, espanta-me que o general Tomé Pinto diga que o 10 de Junho "não é para fazer reivindicações". Antigamente o 10 de Junho serviu para reivindicar a continuação da guerra à custa dos heróis mortos. Porque não reivindicar agora melhor vida para os heróis vivos? É para continuar tudo na mesma.
Finalmente, "combatentes são todos" é para confundir, baralhar situações que não podem nem devem ser confundidas ou baralhadas: a Guiné não era o Kosovo nem o Afeganistão. Na Guiné dizia-se que defendíamos a Pátria, e nós é que pagávamos com a própria vida. No Kosovo e no Afeganistão, bem pagos, os que lá vão defendem o quê?...  ao serviço de quem?... Não é desrespeito, é só para dizer que não é o mesmo.
Razão teve a "Terraweb" nas interrogações que colocou na fotografia que acompanhou aquela notícia do DN. E também a ADFA, que se desvinculou da organização deste Congresso.

A. Marques Lopes 
Cor.Inf.Ref. DFA
 (Membro da ASMIR, Associação de Militares na Reserva e Reforma, membro da AOFA, Associação de Oficiais das Forças Armadas, membro da ADFA, Associação de Deficientes das Forças Armadas, Secretário da Direcção da Delegação do Norte da Associação 25 de Abril)

sábado, 2 de maio de 2009

P165-O MONSTRO DE GANDEMBEL CONTINUA A FAZER VÍTIMAS

O dia estava a chegar ao fim. Minha mãe, velhinha de oitenta e oito anos, esperava-me à porta do Centro de Dia de apoio à terceira idade.
Ali ao lado um rosto conhecido de alguém da minha idade, que não via há uns tempos e nunca pensei encontrá-lo ali. Era o camarada Almeida de Gandembel. Abatido, psiquicamente destruído.
Ao ver-me a comoção tomou conta dele, as lágrimas deslizaram pela face. Eu contive as minhas, mas o meu coração estremeceu e chorou também. Era o seu primeiro dia naquela casa que outrora os povos do norte da Europa batizaram de “casa dos elefantes”.
O Almeida de Gandembel que algumas vezes nos deliciou na Tabanca de Matosinhos cantando o Hino de Gandembel e tantas outras canções que nos transportavam de novo para a nossa juventude. O Almeida deixou de cantar o seu hino. Agora chora de desalento.
O Hino que os camaradas da C.Caç 2317 cantarolavam, quantas vezes acompanhados pelo ribombar das canhoadas que o um inimigo impiedoso, raivosamente despejava sobre Gandembel, bem no meio da mata do Cantanhez, como que a porta do carreiro da morte.
O Hino que nos fins dos anos sessenta era o símbolo da nossa resistência, nos muitos campos de batalha semeados pela Guiné, como que um grito de lamento.
O Hino que o Almeida gravou em CD com tanto carinho em 2007 e foi o centro do show musical que animou a festa de recepção aos participantes do Simpósio de Guilege em 2008, no antigo quartel general em Bissau, agora transformado num Risort
Ali, ao som da sua música, combatentes das duas frentes, deram as mãos, cantaram e dançaram , animados pelo Conjunto Furkuntunda que deu nova alma ao nosso hino, transformando um lamento de guerra num grito de paz.
O Almeida perdeu a vontade de cantar.










-Sabes, Teixeira, a mulher continua a trabalhar e eu fico sozinho em casa, mas não consigo suportar o isolamento. Aquele silêncio ! . . . os fantasmas que te perseguem, pensei eu.
A sorte tem sido madrasta para o Almeida. Não lhe bastou, a fome a sede, o medo e a raiva ao ver os seus camaradas tombar, mortos ou feridos a seu lado. Não lhe bastou ter fintado tantas vezes a morte, nos trezentos e setenta e dois encontros ( Ataques e emboscadas) com o inimigo, que um se camarada foi contabilizando, nos cerca de oito meses que viveu em Gandembel, sem contabilizar tantos outros que vivenciou nas picadas de Buba.
Uns anos mais tarde, o seu filho único, quando cumpria o serviço militar, morreu num estúpido acidente. Regressava à sua unidade vindo de santa Margarida onde estivera em treino operacional. Um acidente na estrada, entre duas viaturas de civis, fê-lo saltar da viatura para acorrer às vítimas na sua missão de enfermeiro. Nesse instante uma terceira viatura, ceifa-lhe a vida.
A família Almeida ficou destroçada. Ele nunca mais voltou a ser o mesmo Almeida, mas a sua grande fé ia lhe dando forças. Tentava abafar as suas mágoas rezando e cantando. Na última vez que esteve na Tabanca de Matosinhos, trouxe a Biblia para nos ler um Salmo e a sua voz para nos deliciar mais uma vez com a sua canção preferida – O Hino de Gandembel e outras canções do seu reportório de outros tempos, que acompanhamos com prazer.
Agora, passa o dia sentado num velho sofá a ver Televisão, absorto da realidade que o rodeia.
O Monstro “Gandembel”que um governador mandou construir, enterrando lá centenas de contos, e outro governador, no mesmo ano, mandou abandonar, deixando lá cerca de cinquenta jovens vidas e enviando outras tantas para Lisboa, quantos delas estropiadas para o resto da vida. Esse terrível monstro continua a fazer vítimas.
Neste dia de quinta feira, a noite chegou mais cedo para mim.


Zé Teixeira

sexta-feira, 1 de maio de 2009

P164-A solidariedade do Vasco da Gama

O nosso querido camarada Vasco da Gama enviou-nos através do Xico Allen, esta mensagem de solidariedade para com as nossas iniciativas.
Leiam as suas palavras sinceras:

Camarada e Amigo Xico Allen,

Com alguma ponta de emoção, mas ao mesmo tempo de alma cheia pela qualidade dos queridos combatentes da Guiné, li o teu mail que o nosso camarada Álvaro Basto escreveu sobre a Bolsa de Famílias de Acolhimento para Crianças da Guiné.

Entrei depois na Tabanca Pequena, pequena de nome mas muito grande nas diversas manifestações de solidariedade que vai tendo, com encontros semanais onde se cimentam amizades e dos quais surgem ideias como esta das crianças da Guiné.

Dado o meu estado de saúde, que é do teu conhecimento, não posso participar na parte dos repastos, mas estou totalmente de braços abertos para pagar uma quotização igual à vossa e oferecer a minha total disponibilidade para acolher crianças em minha casa.

Este, o de poder eventualmente transformar um esgar de dor num sorriso de alegria, é o verdadeiro Euromilhões para as crianças e para nós.

Quantas e quantas vezes penso no sonho de ajudar a construir ou a apetrechar com livros, cadernos e outro material uma escola no meu Cumbijã. Cumbijã, aquele deserto minado que me calhou em rifa e que sei ser hoje uma enorme Tabanca onde centenas de crianças devem precisar do abraço fraterno de todos nós e que não acontece talvez porque haja poucas Tabancas de Matosinhos...No meu atrevimento diria que este tipo de iniciativas é infinitamente mais importante do que uma dúzia de Congressos e Simpósios ou de grandes discursatas sobre o alcance dos morteiros e o de saber se a minha emboscada foi maior que a tua.

Não sei inserir este comentário na Tabanca Pequena, daí que te solicite que o faças, pedindo-te também para que dês conhecimento deste escrito ao nosso Camarada Álvaro Basto e que lhe dês o testemunho da minha admiração e simpatia.Um abraço para todos os atabancados.

Vasco da Gama


Meu caro Vasco da Gama, em nome de toda a nossa Tabanca de Matosinhos e sobretudo em nome de todas as crianças que indubitavelmente as nossas iniciativas irão ajudar, deixo-te aqui o nosso mais sincero agradecimento pelas tuas palavras.

Como dizes e bem, o alcance destas acções concretas, estender-se-á muito para lá de nós mesmos e isso é uma grande felicidade para todos nós

Irei inscrever o teu nome na lista de famílias de acolhimento e registar as dádivas que quiseres fazer para a Clínica Pediátrica de Bor.

Quanto a ajudas específicas para Cumbijã vamos trocar ideias para se passar rapidamente à acção.

Conta com a minha total colaboração e a de todos nós.

Álvaro Basto