domingo, 29 de agosto de 2010

P483-Amílcar Cabral, engenheiro agrónomo


AMÍLCAR LOPES CABRAL
Nasceu em Bafatá a 12 de Setembro de 1924. Em 1932 vai para Cabo Verde, completando no Mindelo o curso liceal em 1943. Emprega-se na Imprensa Nacional, na Praia, em 1944, mas ingressa no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, em 1945, terminando o curso em 1950 e indo trabalhar para a Estação Agronómica de Santarém como estagiário na Brigada de Solos. Contratado pelo Ministério do Ultramar como adjunto dos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné, regressou a Bissau em 1952. Iniciou seu trabalho na granja experimental de Pessubé percorrendo grande parte do país, de porta em porta, durante o Recenseamento Agrícola de 1953, e adquirindo um conhecimento profundo da realidade social vigente na Guiné. Suas actividades políticas, iniciadas já em Portugal, reservam-lhe a antipatia do Governador da colónia, Melo e Alvim, que o obriga a emigrar para Angola em 1955, embora lhe permita voltar uma vez por ano, por razões familiares.
Em pormenor, sinais da craveira intelectual do criador e líder do PAIGC:
Conferências e Congressos: Conferência Arachide-Mils (Bambey, Senegal, SET.1954); XXIII Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências (Coimbra, Portugal, JUN.1956); XXIV Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências (Madrid, Espanha,1958)
Funções públicas: Membro (estagiário) da Brigada dos Solos de Santarém, da Estação Agronómica Nacional, 1950/1951; Engenheiro agrónomo contratado pela Repartição Provincial dos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné Portuguesa, 1953/1954; Ajunto do Chefe da Repartição Provincial dos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné Portuguesa, 1953/1954; Director do Posto Agrícola Experimental de Pessubé (Bissau, Guiné Portuguesa), 1953/1955; Chefe interino da Repartição Provincial dos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné Portuguesa, 1954 e 1955; Inspector do Comércio Geral da Guiné (por substituição), 1954 e 1955; Responsável pela planificação e execução do Recenseamento Agrícola da Guiné Portuguesa, 1953, percorrendo grande parte do país, de porta em porta, adquirindo um conhecimento profundo da realidade social ali vigente; Delegado do Governo português à Conferência Arachide-Mils (Bambey, Senegal), 1954; Membro do Comité Executivo do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, 1954/1955; Colaborador extraordinário (Investigador) da Junta de Investigação do Ultramar, Lisboa, 1956/1960; Colaborador extraordinário (Investigador) da Direcção Geral dos Serviços Agrícolas, Lisboa, 1958/1960; Chefe de Secção da Brigada de Estudos de Defesa Fitossanitária (Junta de Investigação do Ultramar), 1957/1960; Chefe de Secção do Laboratório da Defesa Fitossanitária dos Produtos Armazenados (Direcção geral dos Serviços Agrícolas), 1958/1960; Responsável pela elaboração de um Plano da Defesa Fitossanitária da Semente do Arroz na Guiné Portuguesa, 1959; Responsável pela elaboração de um Plano de Estudo da Defesa Fitossanitária do Amendoim na Guiné Portuguesa, 1959
Outras funções: Colaborador do Professor J.V. Botelho da Costa, da cadeira de Pedologia e Conservação do Solo, do Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, para os estudos referentes aos solos de Angola, 1955/1960; Colaborador permanente do Professor Ario L. Azevedo, da cadeira de Agricultura Tropical, do Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, para os estudos referentes à tecnologia do solo nalgumas regiões de Angola, 1955/1960; Assistente permanente do Professor C.M. Baeta Neves, da cadeira de Entomologia Agrícola, do Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, para os estudos referentes à defesa fitossanitária dos produtos agrícolas em Portugal e no Ultramar, 1956/1960
Organizador e Director da Brigada de Estudos Agrológicos da Sociedade Agrícola de Cassequel, Angola, 1955/1956; Organizador e Director da Brigada de Estudos Agrológicos da Companhia de Açúcar de Angola, 1956/1957; Responsável do Estudo Agrológico das Plantações de Caféeiros da Companhia Angolana de Agricultura, Amboim, Angola, 1958
Responsável do Estudo Preliminar dos Solos da Fazenda Longa-Nhia, Companhia Angolana de Agricultura, 1958; Organizador e Director da Brigada de Estudos Agrológicos da Companhia Angolana de Agricultura, 1959; Director do Gabinete de Estudos Agronómicos, Lisboa (organismo criado pelos Engenheiros Agrónomos e Silvicultores, ao serviço da Agricultura e Silvicultura em Portugal e nos territórios do Ultramar), 1958/1960; Encarregue do Estudo de Viabilidade da cultura industrial da beterraba açucareira em Portugal, pelo Entreposto Mercantil Lda., Lisboa, 1959; Responsável pela Missão de Estudo referente à cultura e industrialização da beterraba açucareira na Europa, 1959; Membro efectivo da Sociedade de Ciências Agronómicas, Lisboa, 1955/1960.
Investigação e experimentação: Solo – Características físicas, utilização e conservação; Agricultura tropical – Prática de cultivo, fertilização e adaptação de culturas
Defesa fitossanitária – Micro-climas, condições de armazenamento, características físicas dos produtos e desenvolvimento das pragas
Trabalhos publicados: O problema da Erosão do Solo. Contribuição para o seu estudo na região de Cuba (Alentejo), Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 1951; O conceito de Erosão, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 1951; Boletins Informativos do Posto Agrícola de Pessubé (Bissau), nºs. 1 a 5, Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné, 1953/1954; Sobre a roseta, Ecos da Guiné, 1953; Sobre a mecanização na Agricultura, Ecos da Guiné, 1953; As jutas e seus sucedâneos na Guiné, Ecos da Guiné, 1953; Para o conhecimento do problema da Erosão do Solo na Guiné, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, nº. 33, 1954; A utilização do solo na África negra, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, nº. 34, 1954; Sobre a mecanização da Agricultura na Guiné, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, nº. 34, 1954; Razões, objectivos e processo de execução do Recenseamento Agrícola da Guiné (colaboração), Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, nº. 33, 1954; Queimadas e pousio na área de Fulacunda, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, nº. 35. 1954; A contribuição dos povos da Guiné para a Produção agrícola, I. Superfície cultivada, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, nº. 36, 1954; Sobre o ciclo da cultura do amendoim na França ultramarina. Relatório da Conferência Arachide-Mils, 1954; Feux de Brousse et Jachères dans le Cycle Cultural Arachide-Mils, Bulletin Agronomique, nº. 12, Ministère France Outre-Mer, Comptes rendus de la Conférence Arachides-Mils, Bambey, 1954; A participação portuguesa na Conferência Arachide-Mils, Bambey, Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, 1954; Os aluviões do Catumbela (Cassequel, Angola), características e utilização, Sociedade Agrícola do Cassequel, 1955; Carta de Solos da Propriedade do Cassequel (3.600 hectares), escala 1:5.000, Sociedade Agrícola do Cassequel, Luanda, 1956 (colaboração); Microclima e microclimas na Defesa Fitossanitária dos Produtos Armazenados, Anais (Estudos de Defesa Fitossanitária), vol.XI, tomo II, Instituto de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1956; Micro-clima num entreposto de Malange (Angola), Anais (Estudos de Defesa Fitossanitária), vol. XI, tomo II, Junta de Investigação do Ultramar, Lisboa, 1956; Os solos aluvianais do Dande (Angola), características e utilização, Companhia de Açúcar de Angola, 1957; Carta de Solos da Fazenda Tentativa (Dande), (4.000 hectares), escala 1:5.000, Companhia do Açúcar de Angola, 1957 (colaboração); Os Solos do Dembe (Angola) (3.000 hectares), escala 1:5.000, Companhia do Açúcar de Angola, 1957; Carta de Solos do Dembe (Angola) (3.000 hectares), escala 1:5.000, Companhia do Açúcar de Angola, 1957; Recenseamento Agrícola da Guiné – 1953, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, nº. 43, 1957; Para uma Classificação Fitossanitária do Armazenamento, colecção Estudos, Ensaios e Documentos, nº. 51, Junta de Investigação do Ultramar, 1958; Resultados da Inspecção Fitossanitária dos Armazéns de Produtos Agrícolas no distrito de Lisboa, colecção Estudos, Ensaios e Documentos, Junta de Investigação do Ultramar e Direcção geral dos Serviços Agrícolas, 1958 (no prelo); Da Infestação dos Produtos Agrícolas armazenados em Portugal, colecção Estudos, Ensaios e Documentos, Junta de Investigação do Ultramar e Direcção Geral dos Serviços Agrícolas, 1958 (no prelo); Deterioração e Contaminação dos Produtos Armazenados, colecção Estudos, Ensaios e Documentos, Junta de Investigação do Ultramar, 1958 (no prelo); Efeitos do Ataque das Pragas sobre os Produtos Armazenados, colecção Estudos, Ensaios e Documentos, Junta de Investigação do Ultramar, 1958 (no prelo) e Garcia de Orta, vol.8 (nº. 1), 1-426, 1960; Reconhecimento Agrológico da Fazenda Longa-Nhia, Companhia Angolana de Agricultura, Luanda, 1958 (colaboração); Carta de Solos da Fazenda S. Francisco, Companhia do Açúcar de Angola, Luanda, 1958 (colaboração)
Os Solos e a Cultura do Café nas Roças do Amboim e do Seles, Companhia Angolana de Agricultura, Luanda, 1959 (colaboração); Estudo Preliminar dos Solos da Longa-Nhia (Angola), Companhia Angolana de Agricultura, Luanda, 1959; Da viabilidade da Cultura Industrial da beterraba açucareira em Portugal, Entreposto Mercantil Lda., Lisboa, 1959
A Agricultura na Guiné Portuguesa. Problemas e características fundamentais, Agros, vol. XLII, nº. 4, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 1959; Da cultura e industrialização da beterraba açucareira. Contribuição para o seu estabelecimento em Portugal. Entreposto Mercantil Lda., Lisboa, 1959; Das Condições Fitossanitárias dos porões dos navios mercantes no porto de Lisboa. Garcia da Orta, Junta de Investigação do Ultramar, 1959 (no prelo)
Das Condições Fitossanitárias dos Entrepostos do porto de Lisboa, colecção estudos, Ensaios e Documentos, Junta de Investigação do Ultramar, 1959 (no prelo); Carta de Solos da Fazenda Longa-Nhia (Angola), (4.000 hectares), escala 1:5.000, Companhia Angolana de Agricultura, 1960
Relatórios e outros trabalhos inéditos: Um Projecto para o estudos dos Solos de Cabo Verde, Estação Agronómica Nacional, Lisboa, 1951; Possibilidades da cultura industrial das Jutas na Guiné, Repartição dos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné Portuguesa, Bissau, 1954; O Problema do Arroz na Guiné, repartição dos Serviços Agrícolas e Florestais e Inspecção do Comércio Geral, Bissau, Guiné, 1954; Projecto de Recuperação dos Solos para a Agricultura na Guiné. Repartição dos Serviços Agrícolas e Florestais, Bissau, 1955
Relatório do Recenseamento Agrícola da Guiné (original), Serviços Agrícolas e Florestais, Bissau, 1954; Possibilidades da Cultura Industrial da Cana-de-açúcar na Guiné, Entreposto Mercantil lda., Lisboa, 1955; Os Solos da Guiné Portuguesa, curso realizado no âmbito da cadeira de Pedologia e Conservação do Solo, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 1956
Possibilidades da Cultura da Bananeira na Guiné Portuguesa, Sociedade Comercial para o Fomento da Agricultura e da Indústria na Guiné (SCOFAI), Lisboa, 1957; Possibilidades da Exploração racional das Pastagens nas Ilhas dos Bijagós, Guiné Portuguesa, Sociedade Comercial para o Fomento da Agricultura e da Indústria na Guiné (SCOFAI), Lisboa, 1957
Obras em preparação: Os aluviões salgados em Angola; Os aluviões de Angola e a Agricultura; A cultura do cafeeiro em Amboim e Selles (Angola); O solo e a morte súbita do cafeeiro em Angola; O custo da produção do amendoim na Guiné Portuguesa; O custo da produção do arroz na Guiné Portuguesa.
(Dados da Fundação Mário Soares sobre a actividade de Amílcar Cabral como engenheiro agrónomo, e colhidos, com a devida vénia, em http://senegambia.blogspot.com/.)
Um exemplo de um dos seus estudos, publicado no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa Nº 36, Volume IX, de Outubro de 1954:
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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

P482 - A Tabanca de 24 de Agosto

Casa cheia, aniversários e não só.
Em pleno mês de Agosto, tudo levava a crer que o número de comensais reduzisse um pouco. Enganaram-se os que, como eu, assim pensavam.
Eh pá! Vamos juntar-mo-nos todos deste lado que hoje vai estar pouca gente (éramos, de facto poucos  e a hora do toque para o Rancho já ia adiantada.
 Logo alguém retorquiu: Tás maluco, vamos ter a casa cheia…
E, assim foi.
Cheia não só de pessoas, mas de surpresas agradáveis.
Aparece de forma sorrateira o Vítor com uma grande saca e escapula-se lá para dentro. O que será? Perguntaram os mais atentos, mas …

Comecemos pelos três aniversariantes. O Carmelita, o Vitor e o Vasco Santos.
Alegres, bem-dispostos e felizes por terem tantos amigos por perto (somamos trinta e oito convivas).
O Carmelita fez-se acompanhar pela sua simpática esposa.
O Vítor também não veio sozinho. Afinal era o champanhe que vinha na saca.
O Vasco trouxe os amigos.
Assim se fez a festa com todos os presentes a cantarem bem alto os “parabéns a você”.
Depois foi o concurso para ver quem apagava as velas em primeiro.

 Um bolo de todos os aniversariantes para todos os convivas
 É possível que alguém se tenha enganado e... apagado as velas do vizinho
 O Carmelita, o nosso " paparazzi" e a sua esposa - um casal feliz.
 O Vitor e o Carmelita a saborearem o valor da amizade
 O Vasco Santos  - um homem feliz, apesar de se sentir um pouco mais velho
 A C.Caç 2368 - Os Feras muito bem representada na festa de anos do seu "seringas"
O Agostinho Novo, associado da Tabanca Pequena, residente em Leiria, decidiu meter os filhos no carro e vir almoçar ao Milho Rei para ver e viver de perto o agradável ambiente da Tabanca.
Lamentou morar tão longe e prometeu voltar.

 O Agostinho Gaspar e a sua prole, vindos de Leiria para saborear os ares da Tabanca dee Matosinhos
 A Rosa Gaspar a assinar a presença na Tabanca
  O Agostinho Gaspar a assinar o quadro de presenças.
O Severino da Rocha Pinto, combatente da Guiné, residente em França entrou no Milho Rei para almoçar. Sem dúvida que estranhou o movimento e vida que se fazia sentir, na sala das traseiras. Apercebeu-se que era um grupo de combatentes da Guiné em festa e entrou. Fez algumas perguntas, ficou entusiasmado. Entrou para sócio da Tabanca e prometeu que para o ano voltaria a tempo de participar no almoço. 

 Um aspecto da sala.

O movimento foi tanto que até precisamos de contratar um segundo empregado de mesa!

 O Pacheco e o Fernando Cunha fizeram-se acompanhar das respectivas esposas.
 O Joaquim Pinheiro da C.Caç. 2368 - Os Feras, veio dar um abraço ao Vitor, seu companheiro de aventuras.
 Pai e filha, que ternura!
Zé Teixeira

terça-feira, 24 de agosto de 2010

P481-Terra Negra


Ao Fernando Pessoa, poeta de Portugal

Terra negra que tremes em convulsões de parto,
Terra negra que a guerra devasta,
Terra negra que os ódios revolvem,
Terra negra que o Luar acaricia.

Oh terra negra da minha infância,
onde uma negra ama me aleitou
com cuidados maternais
e um amor que vinha do íntimo dos séculos.

Oh terra negra da minha infância,
onde brinquei com meus irmãos negros,
onde nadei no rio com meus irmãos negros,
onde cresci de mãos dadas com meus irmãos negros.

Oh terra negra dos mais saborosos frutos do mundo;
do ananás, do caju, da papaia, do mango;
oh terra negra dos maravilhosos contos infantis
que a minha negra ama me contava para adormecer.

Ali, naquela enorme árvore, estava o irã,
terrível espírito da floresta que metia medo aos meninos
e nos fazia fugir para longe.
Mais para lá, era o poilão de Santa Luzia
que vomitava fogo quando a santa queria orações;
era o terreiro onde o cumpô dançava
e os meninos se extasiavam,
era a cova do lagarto onde ninguém ia,
era a mata do fanado
com seus mistérios terríveis.

Era a minha vida,
a vida dos homens simples
que amavam os seus semelhantes
e veneravam os velhos.
Agora, oh terra verde e vermelha da Guiné,
só te peço que todas as noites
deixes baixar sobre meu coração
o silêncio que cura os males da alma
e que, quando os dias nascerem húmidos e tenros
como o barro das das bolanhas,
deixes o meu corpo receber esse fogo matinal
que foi o meu primeiro baptismo
e te peço seja a minha absolvição.

Artur Augusto Silva nasceu na Ilha da Brava, a 14 de Outubro de 1912. Ainda estudante foi Director da revista "Momento", réplica lisboeta da coimbrã "Presença", onde se propunha com outros literatos jovens abrir uma "Tribuna Livre" em que livremente se discutisse e todos pudessem falar. (...)
Licenciou-se em Direito em 1938. Em 1939 partiu para Angola, onde trabalhou como Secretário do Governador Geral. De 1941 a 1949 exerceu advocacia em Lisboa, em Alcobaça e em Porto de Mós. Em 1949 partiu para a Guiné onde foi advogado, notário e substituto do Delegado do Procurador da República.
Foi também membro do Centro de Estudos da Guiné, juntamente com Amílcar Cabral, de quem era grande amigo. Visitou vários países africanos, recolhendo elementos que mais tarde lhe serviriam para escrever, entre outros livros, "Os Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas".
Um dos seus comprometimentos cívicos em que mais se empenhou consistiu em defender presos políticos.Foi defensor em 61 julgamentos, um deles com 23 réus, tendo tido apenas duas condenações.
Em 1966, já em plena luta de libertação da Guiné, foi preso pela PIDE no aeroporto de Lisboa. Meses mais tarde, por intervenção de Marcelo Caetano e de outros responsáveis políticos, que embora discordassem da suas ideias políticas o admiravam como homem de carácter, foi libertado, mas proibiram-lhe que regressasse à Guiné, sendo-lhe fixada residência em Lisboa.
Em 1967, Marcelo Caetano convidou-o para ir trabalhar como advogado da Companhia de Seguros Bonança. Também Adriano Moreira o convidou para leccionar no Instituto de Ciências Ultramarinas, o que ele recusou, fazendo ver ao portador do convite a incoerência de o terem prendido pelas suas ideias sobre o colonialismo português e depois o convidarem para leccionr matérias relacionadas com África.
Em 1976, de visita à Guiné-Bissau, foi convidado pelo então presidente Luís Cabral para trabalhar como juiz do Supremo Tribunal de Justiça. Também leccionou Direito Consuetudinário na Escola de Direito de Bissau.
Faleceu em Bissau a 11 de Julho de 1983.
(In http://www.triplov.com/guinea_bissau/)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

P480 - SEMENTES E ÁGUA POTÁVEL PARA A GUINÉ-BISSAU

A ÁGUA JÁ CORRE EM MEDJO

A população da Tabanca de Medjo é de cerca de 740 pessoas mais cerca de 140 crianças. 

Até há dias iam buscar a água a dois km de distância a uma fonte tradicional – Buraco (pequeno poço) feito na terra, em sítios onde o tipo de terra é menos permeável. Porque não tem anilhas de protecção nem rebordo em cimento, alagam as margens transformando-se em pequenas lagoas. A salubridade é nula sobretudo porque durante a época das chuvas a terra fica toda inundada e estes poços absorvem a água que para lá desliza., com toda a porcaria que arrasta.
       
Também era dali que se tirava a água para as necessidades básicas 
(lavar roupas e tomar banho, ali, mesmo ao lado). As águas sujas escorriam ou infiltravam-se na terra, com as consequências que facilmente adivinhamos.

Aproveitando a presença dos “poceiros” na região do Cantanhêz a AD- Acção para o Desenvolvimento, com a garantia de que a TABANCA PEQUENA- Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, iria conseguir os fundos necessários para este poço cobrir as despesas, decidiu iniciar o projecto de abertura de um poço em Medjo e assim permitir à população água ali mesmo na tabanca com o mínimo de salubridade.
  Chegaram os artistas estudaram o local e começaram os trabalhos 
 
 Construíram as anilhas, extraíram a terra e... ...
 
 A água pura apareceu, ali mesmo no centro da tabanca de Medjo

O Chefe da Tabanca custava-lhe a acreditar que fosse verdade, mas era... ...

Falta adquirir o equipamento – moto-bomba, painel solar, depósito e canalizações, porque ainda não conseguimos o capital necessário. Felizmente para a população local, já não precisam de fazer quatro Km para obter água (sem o mínimo de garantia de qualidade.
Temos de dar as mãos, ser solidários.

A propósito de solidariedade, recordo:

O John Kennedy no início do seu mandato, como presidente dos Estados Unidos, propôs ao povo americano dois objectivos:
- Enviar um homem à Lua, no prazo de 10 anos.
- Ajudar a eliminar a fome no mundo “ no tempo da nossa vida”

O primeiro objectivo, técnico e científico, alcançou magnificamente no período previsto (20/07/1969). já lá vão 41 anos. Neste campo os passos da humanidade continuam a ser passos de gigante, como nunca acontecera.

Quanto ao segundo objectivo, bem mais humanitário e social, os passos têm sido de caranguejo…
Todos sabemos que os celeiros do mundo rico (20% da humanidade) continuam a crescer e armazenam já, mais de 80% dos bens que o mundo produz.
Tenhamos consciência que não basta o desenvolvimento económico, técnico e cientifico para conseguir uma sociedade mais justa e humana. Assim a paz mundial, será cada vez mais uma miragem que se afasta quanto mais a perseguimos.

Precisamos de uma solidariedade inteligente e generosa, que nos una e ajude a resolver decididamente os problemas materiais, humanos e culturais dos povos pobres da Terra, localmente, respeitando a sua identidade e culturas caso contrário o abismo Norte - rico e SuL - pobre, aumentará cada vez mais.

O nosso desafio continua. Vamos abrir dez poços de água na Guiné-Bissau.
O primeiro já está. O segundo já tem vida/água.

Vamos em frente!

Zé Teixeira

sábado, 21 de agosto de 2010

P479-Caverna de Nhampasseré- A Guiné também teve Pre-história



Texto de Amílcar Mateus, que foi chefe da Missão Antropológica e Etnológica da Guiné na década de 50 do século XX In “Acerca da Pré-história da Guiné”, publicado no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Volume IX, Nº 35, Julho 1954, pg. 463:
A caverna de Nhampasseré fica situada a cerca de 12 quilómetros de Nova Lamego, internada no mato a Sul da estrada que liga esta sede de circunscrição com Bafatá.
Para lá se chegar é necessário seguir aquela estrada e, a cerca de 4 quilómetros de Nova Lamego, virar para Sul e meter por um caminho que dela parte em direcção às povoações de Embalocunda e de Fula-mansa. Daqui segue uma picada através da floresta, que pára 2 quilómetros antes da caverna, havendo por isso a necessidade de caminhar durante esses dois quilómetros por uma vereda.
A caverna abre-se num morro de grés e tem a entrada maior, com cerca de 2,15 m de altura, voltada para Norte. Esta entrada dá para um átrio bastante amplo, donde partem 6 corredores em várias direcções, alguns dos quais abrem para o exterior. Alguns deles são altos e as suas paredes estão polidas pelo roçar das feras que aí se acoitam, outros são muito baixos e para se andar neles é preciso fazê-lo de rastos.
Isolada desta caverna, mas aberta também no mesmo morro, há uma outra, bem mais pequena que a anterior e que não oferece interesse de maior.
Explorada a superfície do pavimento da caverna grande, tratámos de abrir uma vala de exploração na direcção N-S. Foi preciso aprofundá-la até cerca de 80 cm para encontrarmos as primeiras peças de interesse: alguns fragmentos de cerâmica. Acharam-se depois outros, bem como instrumentos líticos de três naturezas petrográficas: dolerito, quartzo e grés.
Os fragmentos de cerâmica são todos pequenos, não podendo por isso avaliar-se nem a forma nem as dimensões dos vasos a que pertenceram. Foram confeccionados com barro vermelho grosseiro e apresentam gravura incisa variada.”
Outros objectos tinham já sido encontrados em Bolama e numa colina da região do Boé por outras expedições.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

P478-Inventar com carinho

Em tempos já remotos, na defesa dos ideiais lusitanos, foram hóspedes do povo guineense. Hoje, resolveram retribuir o serviço prestado pelas populações levando-lhes amor e pão. No espírito desses ex-combatentes do exército português, as matas da Guiné há muito que ficaram para trás. Ficar para trás sim, mas só num sentido, o da obrigatoriedade de cumprir o serviço militar. Porque nunca a Guiné esteve tão presente no coração e na alma desses homens, como nestes tempos em que ela atravessa um dos momentos mais críticos da sua história. Momentos esses que os ex-combatentes vivem com paixão à volta da associação denominada Tabanca Pequena de Matosinhos – Grupo de Amigos da Guiné, para contribuir com mais pejo no desenvolvimento desse país. A guerra colonial, hoje um lamento de todos, transformou-se por estes Tabanqueiros – como gostam de se prenominar, em guerra de solidariedade, guerra de sustentabilidade, guerra de saneamento. E nessa guerra possuem uma pontaria digna de registo. Pois graças a esta associação, Amindará e Medjo já têm água potável, “bomba eléctrica e um depósito que permite alguma sustentabilidade no fornecimento de água às populações”- lê-se no blog da associação, uma importante campanha de ajuda à Clínica pediátrica de Bor foi lançada há tempos ... e isto não vai ficar por aí, jura quem sabe!
Infelizmente a Guiné-Bissau, faz parte desses estados africanos que depois de terem apostado no nacionalismo, no panafricanismo e noutros desenvolvimentalismos, acabaram por se desorientar sem pé nem fé. Hoje o país pede socorro. A Tabanca Pequena de Matosinhos - que na realildade de pequena só deve ter a sua conta bancária (a bom entendedor...), compreendeu o desafio que é preciso afrontar para dar mais cabedal aos orgãos vitais do sistema. E se amar um país é sonhar e inventar com carinho motores de impulsão para o seu progresso, pelo que tive a oportunidade e o privilégio de assistir nos almoços semanais das quartas-feiras organizados em Matosinhos (Porto) por esta associação, os portugueses aí envolvidos, homens e mulheres juntos, são capazes disso. Como é o exemplo da ”... Natália que na proxima quarta feira lá vai de novo para a Guiné distribuir amor e pão.”. Na Tabanca Pequena de Matosinhos, a aposta não é um jogo de tristezas nem de emoções, mas sim um programa de amor e de saudade que não tem nada a ver com o saudosismo. Quem não acreditar consulte o blogue
É a convicção de quem estas linhas assina.

Norberto Tavares de Carvalho

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

P477- A Guiné através da História...

O Coronel António Leite de Magalhães foi um quadro da administração colonial, tendo sido Governador da Guiné Portuguesa de 1927 a 1931. Esta pequena obra é muito elucidativa para se saber como foram dominados os povos da Guiné ao longo dos séculos. Foram muitas guerras e muitas lutas. Como eram gentios (designação então dada à generalidade dos povos das colónias não cristãos, e aqui particularmente aos guineenses) foi muito usada a espada e não a cruz… Vão fotografias contidas no livrinho.(Carregar em "menu" e depois em "Vieew Fullscreen" para ver em ponto grande. Bater com o rato no lado direito para avançar na litura, ou no lado esquerdo para voltar atrás)
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domingo, 15 de agosto de 2010

P476 - SEMENTES E ÁGUA POTÁVEL PARA A GUINÉ-BISSAU.


A ÁGUA JÁ CORRE EM AMINDARA.

O nosso projecto de SEMENTES E ÁGUA PARA A GUINÉ-BISSAU continua em frente.
Como temos informado, Amindara já tem água potável a correr para um depósito. A população deixou de ter necessidade de andar alguns Km para conseguir água insalubre numa pequena lagoa. Tem-na bem fresquinha no poço aberto com a colaboração de muitos ex-combatentes. O depósito de 400 litros, está a ser colocado, para garantia de água a todo o tempo, em lugar afastado do poço, para evitar eventuais penetrações de águas menos boas.
De referir que o poço construído, para além do rebordo com cerca de um metro de altura que impede qualquer escorrimento de águas na estação das chuvas tem, como se pode ver  na imagem, uma sapata de protecção que o envolve para tornar ainda mais difícil qualquer penetração de águas sujas (banhos, lavagem de roupas, louças, etc).
Não temos dúvidas que um furo artesiano tem a vantagem de garantir melhor qualidade de água e eliminar à milésima o risco de penetração de águas sujas. No entanto, se eventualmente o equipamento avariar, a população fica impedida de conseguir água, enquanto se tiverem um poço, podem tirar água através de um balde, até conseguirem a reparação. Importa sim, que estejam criadas as condições para impedir a penetração de águas pluviais ou conspurcadas no poço.
SEMENTEIRAS
Havendo esta possibilidade de ter água todo o ano, no fim da estação das chuvas (lá para Outubro) vai iniciar-se desenvolvimento da agricultura com a sementeira de pequenas hortas que se destinam a melhorar a alimentação da população local e eventual venda de excedentes para outros centros populacionais.

Zé Teixeira

sábado, 14 de agosto de 2010

P475-BABEL NEGRA

Diz o nosso amigo Leopoldo Amado:

«Em 1935, Landerset Simões publica «A Babel Negra» que é uma espécie de antologia etnográfica das diferentes tribos guineenses. Trata-se, em nossa opinião, de um dos estudos etnoantropológicos mais cientificamente elaborados sobre a Guiné.
Além de Landerset Simões procurar as origens remotas das tribos guineenses, que em alguns casos remontam da Oceânia, pela primeira vez um autor colonial se debruçou sobre a arte guineense, com especial destaque para a Bijagó e Nalú.» Obra existente na Biblioteca Nacional Digitalizada.

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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

P474 - A Tabanca de 28 de Julho

Finalmente um almoço sossegado e calmo.
As férias fazem finalmente sentir os seus efeitos.
Mesmo assim fomos 27 amigos à volta da mesa e alegria e boa disposição foi coisa que não faltou.
Eis a lista e a aposta no Euromilhões

Tivemos a animada presença de um grupo de Gondomar. Tratou-se do Mário Silva, do Armando Martins, José Pontes e do Manuel Quelhas. Aqui os vemos em baixo com o Zé Teixeira.

Para o José Pontes aqui retratado em baixo,  foi a primeira vez que nos visitou mas prometeu que não seria a última.

Antes do início do repasto o nosso presidente Álvaro Basto aproveitou a calma que antecede cada sessão para uma vez mais frisar junto dos presentes a necessidade de neste Blogue se usar de algum cometimento na linguagem e na imagem que cada um dos seus autores transmite para fora nos seus artigos.
O Blogue é um magnífico meio de comunicação entre as pessoas mas é simultaneamente uma faca de dois gumes pois tanto as boas imagem como as menos boas, surgem com uma facilidade que muitas vezes dispensaríamos de bom grado.
Isto,  a propósito dos termos usados pelo nosso camarada Portojo no seu último poste que embora do agrado de alguns camaradas, como o demonstram os respectivos comentários, os termos usados e a respectiva linguagem caiu mal a alguns outros dos  nossos tertulianos que não se vêm nem de perto nem de longe identificados com ela.
As descrições jocosas e o calão que tão bem transmitem o ar descontraído e informal que todos temos uns com os outros como velhos camaradas e que o Jorge Teixeira tão bem sabe interpretar não podem vir a público neste blogue,  verdadeira montra da Associação TABANCA PEQUENA-GRUPO DE AMIGOS DA GUINÉ-BISSAU  sob pena de transmitirmos para o exterior uma imagem que todos nós estamos longe de querer mostrar. Não nos podemos esquecer que o público que o lê extravasa e muito o simples núcleo de ex-combatentes que o originaram e face aos compromissos entretanto criados com os nossos projectos,  vamos precisar da colaboração de muitos mais que não só a dos ex-combatentes, como felizmente tem vindo a acontecer cada vez com mais frequência.
De uma forma unânime os presentes concordaram com a ideia de algum cometimento e de seguida passou-se rapidamente às sardinhas assadas que como sempre, estavam deliciosas.

O fundo para a Clínica de Bor  teve o seu quinhão mais uma vez traduzida num incremento de mais 60 euros.

O projecto das sementes e água potável continua a mostrar uma agradável e simpática tendência para crescer. E bem preciso é já que depois de Amindará, Medjo que já tem igualmente água potável, graças a nós, tem de passar a ter uma bomba eléctrica e um depósito que permitam alguma sustentabilidade no fornecimento de água às populações.

As fotografias mais emblemáticas sempre da autoria do nosso fotógrafo de serviço, Manuel Carmelita encontram-se publicadas no Facebook, essa rede social que quer queiramos quer não, tantos novos amigos e associados bem como contribuições para a nossa causa nos tem trazido.
De qualquer forma aqui vos deixo algumas das mais emblemáticas:
O Batista com um problema de um frúnculo na cara e o A. Carvalho que desta vez fz jus de se sentar ao lado do Coronel Marques Lopes com a esperança de desta vez comer melhor!!!!

A cavaqueira calma e bem disposta sempre à volta dos contentores da Natália que na proxima quarta feira lá vai de novo para a Guiné distribuir amor e pão.

Pelo ar do Carvalho parece que resultou ter-se sentado ao lado do Marques Lopes

O Manuel Carmelia e o bem disposto Sr. Rolando

O Pires e as suas pródigas e exageradas manifestações de afecto ao Zé Manel desde que em casa dele conheceu uma certa pessoa!!!


Álvaro Basto