segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

P053-Ainda a Ceia de Natal na Tabanca de Matosinho

É muito difícil abordar um tema destes quando dele somos também protagonistas (posso cair em gabarolice) – acho que efectivamente devo fazê-lo – com 8 dias de atraso, mas escrevo e curto… Este atraso está directamente proporcional às duas horas que eu demorei a percorrer afinal 25 Km para ir à nossa festa (às 4ªs feiras demora-me 20 minutos mais ou menos)…

Quando cheguei, meio nervoso e a correr: Milho Rei adentro com duas violas na mão e um cavaquinho que a mulher levava a andar depressa – fez a clientela para além da nossa sala se interrogarem – mas que "raio de acontecimento" vai haver ali dentro? Se me tivessem perguntado eu diria: ah, sou eu que me atrasei pelo caminho e vou ter com os meus amigos que me esperam - e quando vamos ter com os amigos devemos estar felizes e essencialmente colocarmo-nos ao seu serviço com o material que temos e dando aquilo que mais gostamos de fazer… É bom vermos as pessoas dizerem – alto que já chegou, ainda bem, mas os atrasos dão nisto – não pude fazer "biquinho" para a comida, foi logo comer naturalmente. Não era peixe com arroz de pilão (bianda) – temos que ir ao dicionário do Marques Lopes ver isto, e açúcar… Muito menos os copos eram de água, eram de vinho e do bom e para mim – terrível defeito decerto, cerveja. Gente feliz, solidária alegre, em celebração do Natal quer dizer – da amizade que mais nada do que isso se trata… Gente que gosta uma da outra, andou numa guerra e tem um elo forte que os une e pode usar o mesmo discurso – GUINÉ. É por demais evidente que não é o comer, todas as 4ªs feiras umas sardinhas ao meio dia que nos faz ser "tabanca", é essencialmente por já como que nos considerarmos uma família que logo damos por ela quando um de nós falta… Isto quer dizer, que cada vez mais faz sentido a Ceia de Natal na "nossa tabanca"

E então surge a parte artística… Não há dúvida que houve um enriquecimento muito grande na parte em que "ensarilhamos as armas" e pegamos nos instrumentos musicais… O cavaquinho, a braguesa, a guitarra as violas… Não tocamos tão desafinados assim, fizemos o que pudemos e bem em favor de todos os nosso amigos… Fez-se o que se pode e sem ensaios, as coisas saíram muito bem…. Para já uma coisa vi – temos pernas para andar neste caminho, e porque não fazê-lo? Um grupo de cantares da Tabanca de Matosinhos… arranjava-se tempos para ensaio e pronto… Pela predisposição que vi, breve temos mais músicos, tenho a certeza, e depois, é só crescer… Um ensaio quinzenal por exemplo, não seria mal. depois de se arranjar um reportório e claro englobado os cancioneiros da Guiné mas nunca esquecendo as cantigas de nossas terras que são lindas e fazem parte de nós… FICA A IDEIA…

E a ceia terminou e afinal… parece que ainda era cedo para nós que estivemos e ficamos felizes – mas isso já é nosso hábito, ser felizes como sabemos…

Um forte abraço a todos,

David Guimarães


FELIZ ANO NOVO

Eis que finalmente chega o David

Já não era sem tempo

Mas a tempo do concerto...

domingo, 28 de dezembro de 2008

P052-Lembranças de 2008

Lembrança da Casa Teresa

O Álvaro Basto falava sobre as vantagens de comer sardinhas com seven-up. O Xico Allen, com a sua técnica foto-informática, fixou o momento em que o Guimarães, que até achava que com cerveja não era mau, e o Marques Lopes, que prefere o vinho, seguiam, no entanto, atentamente a prelecção. Já o Barbosa estava mais atento às observações picarescas do Lobo, enquanto o Zé Manel, que não tem nada a ver com bebidas gazosas, tentava saber se as uvas medravam...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

P050-Poucos mas firmes

O Rolando Basto o Pimentel o João Rocha o Pires o Xico Allen o Marques Lopes e o
Alvaro Basto que marcaram presença no Milho Rei mesmo na véspera de Natal


Pois é camaradas....nem na véspera de Natal a tradição das quartas deixou de ser cumprida.
O Milho Rei foi palco de mais um almoço animado a recordar aqueles primeiros tempos em que a tabanca de Matosinhos era mesmo uma Tabanquinha. Só que e pela primeira vez há muitos meses não se comeram sardinhas assadas à quarta-feira.
Na altura soube-se que não apareceu mais gente por causa de uma malfadada gripe que anda aí assolar as bolanhas..Um abraço e votos de rápidas melhoras para o Zé Manel Lopes e para o Lobo que ficaram retidos entre lençóis.
Na quarta, véspera de Ano Novo lá estaremos de novo.
Álvaro Basto

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

P049-Um (meu) conto de Natal




Naquele tempo em que eu era pequenino e o Pai Natal ainda não tinha sido inventado, havia um menino que estranhamente nascia todos os anos no mesmo dia e à mesma hora. Esse menino chamava-se Menino Jesus e nascia no dia vinte e quatro de Dezembro à meia noite, na noite de Natal.
Segundo dizia a minha avó, que Deus tem, esse simpático menino, que nascia todos os anos à mesma hora e no mesmo dia, mal acabava de nascer entrava em todas as casas para deixar um prendinha aos meninos e meninas que se portassem bem. Na casa dos ricos entrava pela chaminé e na casa dos pobres entrava pelo buraco da fechadura ou pelos buracos existentes nas paredes, que deixavam passar muito frio,depositando a suas prendinhas, junto à lareira nos sapatinhos ou tamanquinhos que os meninos e meninas lá deixavam na noite anterior, depois da Ceia de Natal em que estranhamente até os meus tios iam do Porto, de lá tão longe, para comer connosco e era uma festa muito grande, com bacalhau, rabanadas docinhas, formigos, sarrabulho doce e tudo mais.
Claro que eu teimosamente deitava-me no preguiceiro, junto à lareira à espera do tal Menino Jesus que me ia trazer uma prendinha, pois eu tinha-me portado bem, nos últimos dias, só que o soninho aparecia muito antes e eu só acordava no dia seguinte, na minha cama, depois da chegada da minha avó, que se levantava muito cedo para ir à missa das sete. A essa hora, já o menino se tinha ido embora, pois tinha muito que fazer naquela noite e eu ficava triste por não conseguir conhecê-Lo.
Num ano eu que eu já era crescidote, resolvi pregar uma partida à minha avó e ao Menino Jesus. Na véspera do tal dia de Natal, quis ir para a cama mais cedo, por mais que minha avó estranhasse. Até pensou que eu estaria doente. Talvez as rabanadas ou os formigos tivessem levado açúcar em demasia. Ou o sarrabulho doce, petisco que eu adorava, tenha levado um pouco mais de vinho fino.
Assim, no dia de Natal, mal a minha avó, saiu para ir à missa das sete, eu, descalço e de mansinho para não acordar os meus irmãos, abri a porta, atravessei o quinteiro, ainda húmido da geada e fui à cozinha espreitar o meu tamanquinho rapelho, que deixara junto á lareira na noite anterior. O Tamanquinho estava lá, mas prenda, nem vê-la. Fiquei muito triste e aflito, afinal o Menino Jesus não viera a nossa casa, mas eu tinha-me portado bem ! Lá isso é que tinha ! já não fazia chichi na cama e comia o caldo todo.
Quando minha avó chegou da missa, sai-lhe ao caminho, dizendo com voz triste: O Vó o menino Jesus não veio esta noite. Não há prendas para ninguém.
Responde-me ela, com um brilho maroto nos olhos. Atrasou-se um bocadinho, mas cruzou-se comigo ali no caminho, ao fundo da leira da figueira. Aqui está a tua prendinha.
Uma regueifa bem quentinha. A prenda de todos os anos da minha avó e madrinha.
UM SANTO E FELIZ NATAL PARA TODOS OS CAMARADAS E SUAS FAMÍLIAS

Zé Teixeira

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

P045-Boas Festas

Só. Não há mais papel.

P044-Jantar de Natal

Como sabem, vamos ter amanhã o nosso Jantar de Natal.
Segue aqui a lista dos inscritos para conferência. Estão inscritos 28 tertulianos e ao todo seremos 51 pessoas.
Qualquer alteração ou anomaila detectado, comuniquem, ok.
Que tenhamos um bom jantar e que a boa disposição seja de facto a "Rainha da Festa"
Àlvaro Basto

P043-São assim as nossas quarta-feiras

Mais uma quarta de convívio alegre da nossa tertúlia.
Tivemos desta vez a visita de dois tertulianos que há muito não víamos, o Hernani Figueiredo, o alferes de transmissões, camarada do Pimentel e o Salviano Guimarães, que de enfermeiro virou contabilista.
De registar também o aparecimento de mais um camarada que esteve em Moçambique, o Avelino Gomes e o filho mais novo do Pires, o Tiago Pires que, com o nosso jovem companheiro de viagem à Guiné, o Hugo Pires, e o pai, nos fizeram companhia no almoço.
No final, o Silvério Lobo, depois de uma série de "macaquices" com que nos brinda sempre, teve a ideia de se criar uma sociedade para, semanalmente, se jogar no Euromilhões. Ficou a promessa de que se "pintasse", o dinheiro seria para irmos todos à Guiné!!! (aquele rapaz, para além de ser o campeão da boa disposição é tambem o campeão das boas ideias e da camaradagem)
São assim animadas as nossas quartas no Milho-Rei.
Álvaro Basto

O M. Lopes e o Hernani. Foto tirada num almoço na Torreira em 16 de Fevereiro passado (curiosamente o Hernani conseguiu o mais dificil: não ficar em nenhuma das fotos de quarta-feira passada...)

O Carvalho, o Salviano e o Barbosa

A família Pires e o M.Lopes que exagerando... nos falava dos tempos em que era novo e... passava muitas horas de isolamento no seminário a pensar em mulheres



O friso da direita, o Batista, o Guimarães, o Xico, o Pimentel, o Rocha (escondido) e o Almeida


O Avelino Gomes que pela primeira vez nos visitou, o Rolando Basto (pai do Alvaro Basto) que com os seus 86 anos continua firme a acompanhar-nos, o Guimarães e o Barroso


Pendurados no ecran do retropojector poderá descortinar-se um par de objectos estranhos.... São os sapatos do Lobo que num momento de discordância e imitando aquele jornalista Iraquiano...os atirou ao Zé Manel


O Lobo a redimir-se junto do ofendido para ver se conseguia ir para casa calçado

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

P042-Um Natal... na mecha

Tem piada.
Conta Salgueiro Maia no seu livro "Capitão de Abril, Histórias da guerra do ultramar e do 25 de Abril":
O general Spínola, durante o período do Natal, visitava todas as posições ocupadas pelas Forças Armadas. Começava pelas sedes dos batalhões e ia até ao destacamento mais pequeno. Normalmente deslocava-se de heli, com um heli-canhão em apoio. Estava prevista nestas visitas a ida a Bula, o comandante do batalhão lá localizado ordenou que a companhia do capitão Gaspar informasse a sede do batalhão logo que os heli a sobrevoassem em direcção a Bula. Entretanto, toda a rede rádio de Bula e os sectores envolventes de Bissau, Mansoa e Bissum estão em escuta rádio.
Considerando a importância da missão, o capitão Gaspar achou conveniente ir pessoalmente para a rádio, e, assim, logo que ouviu o barulho dos heli a aproximarem-se chamou o comando do batalhão de Bula ao rádio e informou: "Informo Vexa [V.ª Ex.ª, Vossa Excelência] que Sexa [S. Ex.ª, Sua Excelência] passou na mecha. Terminado."
No dia a seguir foi recebida em todas as unidades no teatro de operações da Guiné a seguinte mensagem: "A Partir desta data expressamente proibido uso de abreviaturas Sexa e Vexa."

domingo, 14 de dezembro de 2008

P041-Mais outra frase - Não era só a expansão da civilização cristã...

Disse aquele que todos conheceram, in Os Nativos na Economia Africana, em 1954:
«Os pretos em África têm de ser dirigidos e enquadrados por europeus. [...] Os negros em África devem ser olhados como elementos produtores enquadrados ou a enquadrar numa economia dirigida por brancos».
Resumiu, magistralmente, os objectivos de 500 anos de colonização. Marcello José das Neves Alves Caetano, quando era ainda Presidente da Câmara Corporativa, naturalmente já dentro da perspectiva "correcta" do regime para as colónias e para a forma como encarar os seus povos.

P040-Nem só de sardinha assada vive o homem

Na passada quarta-feira, após o nosso almoço.... digamos..... diferente, como habitualmente, cada um seguiu à sua vidinha. E eu, o meu pai, o Jorge Felix, o Pimentel e o João Rocha decidimos ir a Braga, à fábrica das guitarras Artimusica, eu para fazer um pequeno arranjo na minha guitarra e o Jorge Felix para ir buscar um cavaquinho que tinha há tempos encomendado.
Fica-se sempre extasiado com a visão daqueles artesãos a tabalharem a madeira transformando as tábua e os barrote de madeira bruta em magníficas esculturas quase femininas que tangem magníficamente quando são bem tocadas por unhas de quem sabe.
O Pimentel ficou tão entusiasmado que tambem comprou um cavaquinho.
Vamos todos puxar por ele para no dia 19 o ouvirmos tambem no nosso concerto (ou será desconserto) de natal.
Aqui vão duas imagens, uma feita com o meu telemóvel e a outra feita com a câmara de especialista do Jorge Felix
Ah é verdade.... o Jorge registou também a imagem do assador das sardinhas que, cá fora, indiferente às itempéries... nem escutou os discurosos... (mauzinho...)
Até sempre

Alvaro Basto
As guitarras alinhadas meias prontas


A luz do Felix reflectida nos leques das guitarras


O intrépido assador das sardinhas

sábado, 13 de dezembro de 2008

P038-Frases célebres para pensar - ...Os inteligentes

Segundo Basil Davidson, in «A política da luta armada, Libertação nacional nas colónias africanas de Portugal", este homem da fotografia disse, numa contribuição para as "Noções de Estratégia do Curso de Altos Comandos", 1966/1967, que:
"A subversão é acima de tudo uma guerra de inteligência. É necessário possuir um elevado nível de inteligência. Nem toda a gente é capaz disso. Os pretos não possuem um nível de inteligência elevado. Pelo contrário, são o menos inteligente dos povos do mundo
Diz o Basil Davidson que ele "pelo menos teve oportunidade de se elucidar melhor a esse respeito". Eu também.

P037-Uma quarta-feira diferente

Fui deixando o tempo escorrer devagar para escrever sobre a nossa última “concentração” quarta-feirística na esperança de que me surgisse uma inspiração especial mas hoje é sábado e … nada!
Realmente a nossa ultima quarta-feira foi mo mínimo “diferente”.
Primeiro, porque não cessa de aumentar o número de camaradas que connosco querem partilhar aqueles breves momentos de alegria e confraternização, demonstrando desta forma que o “grupo” está activo e bem vivo . Houve mesmo necessidade de aumentar o nr. de mesas.
E finalmente, porque sendo a hospitalidade um dos ex-líbris das gentes do “nuorte..carago” ela não ficou muito bem demonstrada nas reacções que tivemos com dois camaradas que nos visitavam e connosco almoçavam, independentemente dos motivos mais ao menos compreensíveis e (porque não) desculpáveis que a isso levaram.
Ao Augusto Freitas e ao José Vieira, respectivamente Presidente e membro do Conselho Fiscal eleito da APVG (Assoc. Port. de Veteranos de Guerra) queria antes de tudo deixar aqui, tal como o fiz pessoalmente na altura, um formal pedido de desculpas por lhes cortarmos a palavra.
Não é habitual tratarmos os amigos assim.
É certo que não gostamos de discursos, especialmente quando eles são tão pessoalizados, feitos na primeira pessoa do singular, e à base de meia dúzia de frases gastas e retóricas ultrapassadas. Mas a nossa obrigação era mesmo, penso eu, “aguentar”….
Foi pena que não tivesse praticamente havido espaço para nos apresentarem condignamente a Associação que representavam, dando-nos a conhecer coisas tão importante como o peso da sua representatividade social ou o seu plano de acção, por exemplo.
Esquecendo agora o incidente... foi mais uma daquelas quartas-feiras memoráveis.
Ao Fernando Giesteira, ao Rodrigo Lopes ex-cdt, do Pel. de Nativos 61, ao Manuel Andrade e ao Manuel Rebelo ambos do Batalhão de Engenharia de Bissau e ao Antero Santos as nossas boas-vindas.
Apareçam sempre amigos!
Seguem-se as imagens da praxe e parte do discurso do José Vieira.
Até quarta….
Álvaro Basto











sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

P036-Antes da guerra (5) ...quando a cabeça já estava à tona d'água na minha "manhã submersa" - I

Lá saí de Mogofores e fui para Manique, do Estoril. Aí fiz, primeiro, o Noviciado (fiz voto de pobreza, castidade e obediência… obediência e pobreza tinha que ser, não havia remédio, mas quanto à castidade havia, o que estava à mão, é claro …), fazendo a seguir um ano e pouco de Filosofia (hão-de ver porquê). Foi quando comecei a pensar e a ver o que era aquilo.
Já o Virgílio Ferreira dissera no seu livro “Manhã Submersa” em 1954:
“(...) Quando algum de nós se afastava para dentro de si próprio, logo a vigilância alarmada dos perfeitos o trazia de rastos cá para fora. Os superiores sabiam que, à pressão exterior, cada um de nós podia refugiar-se no mais fundo de si. Como sabiam também que a descoberta de nós próprios era a descoberta maravilhosa de uma força inesperada. Nenhuns sonhos se negavam ao apelo da nossa sorte, aí na nossa íntima liberdade. Por isso nos expulsavam de lá. Mas, uma vez postos na rua, havia ainda o receio de que as nossas liberdades comunicassem de uns para os outros e ficassem por isso ainda mais fortes. E assim nos obrigavam a integrar-nos numa solidariedade geométrica, ruidosa e exterior como de ladrilhos”.
A partir de uma certa altura comecei a fazer um diário, um afastamento para dentro de mim próprio. Todos conhecem ex-seminaristas, certamente, mas talvez não imaginem como era as suas vidas, as amarguras e traumas sofridos. Vou dando alguns excertos, os mais significativos, e por etapas. Não quero fazer a história da minha vida, apenas fazer ver que espíritos e mentalidades, não preparados para isso, andaram envolvidos em “ver matar e morrer”, como disse o João de Melo. Poucos estariam, mas eles (conheço vários ex-seminaristas que estiveram na guerra) até tiveram uma preparação para o contrário.
6 de Março de 1961 - Chamaram-me singular. Porque é que eu sou “singular”?... Por eu não ser como os outros?...Às vezes vou para dentro de água quando os outros não estão lá; outras, enquanto eles lá estão não me apetece tomar banho e, portanto, não vou. Porque terei de ser como eles?!... Não posso ser eu próprio? Terei de ser, de agir como todo o rebanho?...
23 de Março de 1961 - Fartam-se de dizer que este ou aquele indivíduo são pessoas de virtude, almas boas. Mas eu não vejo onde está a virtude deles, dos que me cercam. Noto, sim, que não me compreendem, uma incompreensão flagrante, um alheamento dos problemas dos outros, um auto-aperfeiçoamento egoísta, presuntivos “olhar só para Deus” e “cuidar da salvação”. E isto contra todos os princípios que o seu pretenso Mestre lhes deixou. Será isso ser virtuoso?... Pode ser que sim...
18 de Abril de 1961 - O Bom Pastor... Hoje é dia do Bom Pastor. A mim custa-me a acreditar que ele cuida de mim em particular. Sinto-me lançado, posto a um canto. Do género “desenrasca-te”. Tudo me tem corrido mal.
19 de Abril de 1961 - Em tudo o que faço há-de haver sempre alguém para dar o seu veredicto e fazer a sua interpretação, sempre contra. Eu sei que tenho cometido faltas. Mas porque hão-de elas pesar sempre sobre as minhas acções e intenções presentes? Há indivíduos que estão sempre debruçados sobre o passado. Quando levantam a cabeça para encararem o presente os seus olhares míopes não conseguem vê-lo sem continuarem a ter as outras coisas impressas na retina. São as tais pessoas caridosas que ainda carregam mais na cruz de cada um. Hoje não andava cá nos meus dias “sim”. Pois ainda houve alguns senhores que me vieram chatear.
20 de Abril de 1961 - Eu gostava de ser alegre. Mas não, não pode ser. A alegria é o amor satisfeito. Eu sonhei com um ideal de amor, um tipo de amor que possuo em mim, mas que não encontrou satisfação em parte alguma... nem em Deus. É escusado: nunca a vontade encontrará o objecto dos seus desejos... nunca terei alegria. Nunca encontrarei o outro amor igual ao meu. É estranho que Deus esteja nas criaturas. Não o vejo lá. Serei, acaso, obrigado a procurar Deus em toda a parte?... Um Deus invisível, barbudo... Um Deus que me obriga a amá-lo... Assim como Ele é grande, é também grande a tarefa de procurá-lo somente a Ele em toda a parte. Deus é amor. Já me disseram tantas vezes!... Mas eu não compreendo. É tão penoso procurar a Deus.
O Esparteiro da fotografia também esteve na Guiné como alferes miliciano, creio que em Mansoa. E lá casou com uma libanesa...




quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

P033-Cada um pensa como pensa


Cada um pensa como pensa, e o que acha que está bem. E há circunstâncias em que temos de objectar e confrontar os outros com o nosso pensamento. A formas como o fazemos é que têm que variar de acordo com as circunstâncias. Além disso, temos que considerar que cada um tem a sua maneira própria de colocar as sua opiniões. E, sabemos, nem sempre encontramos a melhor forma para o “público” que nos ouve.
A nossa experiência e vida, a nossa juventude, para nós que estivemos na guerra, foi um marco (vou chatear-vos proximamente com mais um bocado da minha…ah!ah!ah!) de onde partimos para lá, infelizmente. Mas gostaríamos que não tivesse sido assim. Não nos admiremos que nos possamos agarrar a ela com saudade e ponto de referência.
O Freitas fez a intervenção normal do Presidente da APVG para mobilizar e incentivar a generalidade dos veteranos de guerra perante o poder político (fomos defender a Pátria, e têm que ter isso em conta, considerar-nos e tratar-nos como tal…, etc. Há que considerar que uns acham que sim, embora outros achem que não, que foram somente obrigados e que apenas tentaram safar-se – como é o meu caso). Embora este, poder político, intimamente se esteja cagando para estas considerações, ou por convicções políticas ou por mero desprezo, mas, como tal, tem de ouvir isto assim. Disse-me que tinha falado como ex-combatente, situação em que ali estava. Mas eu também lhe disse que devia ter dito que era o Presidente da APVG e, assim, talvez não tivesse havido as reacções que houve, todos teriam compreendido. Mas é verdade que ele, como nós, é um ex-combatente (Angola e Moçambique) e merece consideração e respeito.
E aqui o cerne da questão. Nós somos um grupo de convívio e de recordações, sem objectivos de agregação de qualquer género, a não ser estar juntos, não fazemos discursos com tais objectivos, apenas comemos, bebemos, falamos, “amizadamo-nos”, cumprimentamo-nos e abraçamo-nos. Somos amigos. Tudo na base do passado comum. Não me parece, por isso, que seja de reagir de forma ostensiva (e ofensiva) contra opiniões que não nos quadram. Eu tenho as minhas (e muitos de vós sabem quais são) e cada um terá as suas. Mas há apenas que dizer que sim ou que não, que estou de acordo ou que não estou. E pode-se dizer porquê, claro. Nas calmas.
Camarada Freitas, aparece na próxima quarta-feira e traz o vinho da tua quinta.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

P032-MATOSINHOS ESTÁ DE LUTO

Monumento que recorda o grande naufrágio de 1947

Muitos dos membros da nossa Tabanca não vivem em Matosinhos.
No mínimo um dia por semana rumamos a esta linda terra para convivermos fraternalmente. Um ponto de encontro que nos faz sentir felizes.
Não podemos ficar insensíveis à dor que nestes últimos dias abalou uma classe laboriosa, a dos pescadores e sobretudo as famílias que viram os seus entes queridos partirem para a eternidade com o naufrágio do Rosamar.
Para os pescadores e para as familias enlutadas a nossa solidariedade.
A propósito o Camarada Joaquim Ferreira Neto, membro desta Tabanca de Matosinhos enviou-nos um artigo que recorda um naufrágio em 1947 de dimensões muito mais gravosas que não pode ser esquecido.
Heróis anónimos
1 de Dezembro de 1947, feriado nacional, que só não era guardado pelos pescadores. Dia ventoso, vento sudoeste. O pescado nesse dia situava-se a sul, todos os barcos na faina se situavam portanto nesse quadrante e muito deslocados.
O pessoal apercebia-se que poderia haver volta de vento, para o sentido mais perigoso, noroeste, com o consequente crescimento do mar e vagas atravessadas.
Era imperioso rumar ao porto de Leixões, o que fizeram. Uns com potência suficiente da máquina fizeram-no com êxito a pesar de o vento ter entretanto mudado, outros os que se situavam mais longe, começavam a sentir dificuldades acrescidas com a intensidade do vento a aumentar.
Gerava-se o alarme entre as famílias daqueles que labutavam. Acorriam em massa para a praia esperando ansiosamente a entrada a salvo dos seus.
Era já noite, o que tornava difícil a identificação e o engano instalava-se fazendo ruir a esperança de muitos.
Ao longe, antes da barreira do esporão as vagas partiam, o que tornava toda a extensão visível num mar de espuma branca.
Os gritos e as lamentações aumentavam quebradas de tempos a tempos por gritos de júbilo quando entrava uma embarcação identificada.
Naquele tempo não havia comunicação rádio nem previsões meteriológicas o que tornava a faina da pesca dependente do sentido dos pescadores adquirido através do saber empírico de gerações.
Altas horas da noite, já quase tudo tinha entrado, excepto umas poucas embarcações, que embora poucas representavam muitas vidas.
Assim "Rosa Faustino ", Maria Miguel", "Senhora da Guia", "São Salvador", "D. Manuel" e "Moreia", eram as embarcações que faltavam.
Só duas voltariam, " Senhora da Guia" entraria às dez da manhã do dia seguinte e "Moreia" às três da manhã.
"D. Manuel" seria apanhado de través por uma onda voltando-se e literalmente rolando e despejando máquina e caldeira até encalhar no cabedelo do rio Douro, escapando apenas alguns poucos tripulantes que se refugiaram nas cavernas, em vez de se lançarem ao mar, fazendo-o somente depois do barco ter encalhado, e mesmo assim escapando com muita dificuldade.
"Maria Miguel" barco de construção recente em que as cavilhas tradicionais de fixação foram substituidas por parafusos , "São Salvador" e "Rosa Faustino", ninguém escapou.
"Senhora da Guia" inteligentemente fez-se ao alto mar a fim de evitar o quebrar das ondas, teve êxito felizmente.
"Moreia" teve ideia semelhante. A sua máquina era de fraca potência - 135 HP-, para um casco que necessitava de pelo menos 200 HP,- alma pequena em corpo grande -, e ainda em fase de experiência de hélice.
Assim decidiu aproar a noroeste sustendo assim as vagas no sentido de as cortar de proa rumando ao mesmo tempo para o mar alto onde a vaga não quebrava.
Quando o barco se encontrava já a norte do esporão, uma vaga alterosa o fez empinar com a consequente queda em vazio e embate no cavado da onda, resultando a quebra da quilha por uma linha de emenda resultante de uma substituição parcial da mesma feita tempos antes.
Como consequência o barco abriu água e a invasão da mesma por todo o fundo da embarcação incluindo a casa das máquinas.
Aí duas hipóteses: afundamento e o consequente salvamento da tripulação com os meios disponíveis -(colete de salvação), que se demonstrou mais tarde não ser minimamente suficiente, ou tentar com água aberta atingir o porto de abrigo.
Opta-se por esta última hipótese, que implicava a difícil tarefa de inverter o sentido de navegação, porquanto o barco corria o risco de se voltar quando apanhasse as vagas de través.
Assim haveria o cuidado de rodar no sentido oposto ao da localização da rede cujo peso contrabalançaria o efeito das vagas.
A inundação continuava, era a luta contra o tempo. O motorista, único membro da tripulação abaixo do tombadilho, com a água pela cintura, com os diversos objectos que boiavam, tocando-o amiudadas vezes, não se atrevia a pedir um colete de salvação. Fazê-lo seria incutir nos seus companheiros a certeza de que tudo estava perdido, e daí aumentar o pânico já existente.
Por isso estoicamente ia ajudando o motor com injecção manual a fim de retirar deste mais alguns cavalos de potência.
Embora não católico, nem protestante, nem qualquer religião conhecida, mas cristão natural profundo, animava a tripulação dizendo: "Vamos com Deus".
E ele só e com a ajuda de Deus, conduziu o barco a bom porto, encalhando à justa na lingueta do porto de serviço, eram três horas da manhã do dia dois de Dezembro de 1947.
Nessa noite trágica pereceram cerca de 150 pescadores.
Nunca Matosinhos guardou luto pelo aniversário desse dia."

Abraço
F. Neto

P031-Jantar de Natal


Aproxima-se a passos largos o nosso jantar de Natal
Para já, estão inscritas 36 pessoas
Não deixem para a última a inscrição.
Podem faze-lo por voz ou sms (965031310) ou por email para qualquer um dos editores.
Vamos lá cambada.. (como diria o João Rocha...)
Álvaro Basto

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

P030-Encontrados os mortos da Guiné no cemitério da Foz do Douro






Olá cambada, (Os gajos do Porto são assim...).
No seguimento do pedido do camarada da Foz do Douro,o golpe de mão foi levado a cabo pelo Grupo Esp. comandado pelo Marques. Avançámos junto ás praias do Porto e junto ao bater das ondas de forma a não serem topados pelo inimigo para que o objectivo fosse atingido de surpresa. Com o mesmo á vista, foi um tal disparar e as fotos foram conseguidas de forma a satisfazer a pretensão do camarada da Foz agora residente em Lisboa.
Por aqui me fico hoje
Xico

P029-Boas Vindas



Cheguei agora, mas andei por aí perdido... isto afinal é mais fácil do que o que eu pensava pessoal.

Xico

P028-Mais uma das nossas quartas-feiras "culturais"

Mais uma quarta e mais um almoço de convívio sempre aceso e animada.

Pela acta aqui ao lado, se pode constatar a presença de 20 tertulianos, alguns dos quais menos assíduos como o Casimiro ou o Santos mas não menos chegados pois todos são grandes amigos e amantes da Guiné.
Tem sido curioso verificar a dinâmica deste grupo de amigos que, ligados praticamente só pelo facto de serem ex-combatentes da Guerra do Ultramar na Guiné se reúnem semanalmente de uma forma totalmente espontânea no "Milho Rei" para reviverem as histórias daqueles dois anos de juventude perdida.
Hoje tivemos mais um novo elemento que quis confraternizar connosco. Foi o Aníbal Portugal da Póvoa de Varzim. Pertenceu à 38ª de Comandos e esteve no CTIG em Mansoa, em Teixeira Pinto e fundamentalmente onde houvesse muita "porradinha"....
Ainda não está reformado pelo que partilhou connosco o seu intervalo de almoço.
As histórias que este homem deve ter para contar!
Aqui o vemos ao lado do David Guimarães e apesar da calvice parece que foi ontem para a tropa...

Seguem-se alguns aspecto da mesa onde continua a imperar a táctica do quadrado, mostrando ser esta a melhor forma de se atacar a nossa maior inimiga aquela hora, a fome....

Álvaro Basto


quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

P026-Como éramos?...

O meu objectivo é mostrar o que éramos, crianças, jovens, quando nos mandaram para a guerra. A situação, a formação e a vida em que crescemos, decidiu de alguma forma o nosso comportamento durante o tempo que passámos na guerra? Seminaristas ou estudantes, diferentes experiências, trabalhadores, como eram os que foram para a guerra, como podíamos, com cada formação de vida, encarar essa guerra? Na Guiné, Angola ou Moçambique. Está aberto a todos.
É o objectivo do que tenho escrito, e gostava muito que outros enveredassem pelo mesmo esgravatamento.
Digam. Agradeço.
A. Marques Lopes

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

P025-Há 40 anos - Efeméride

O Jorge Felix mandou-me o seguinte email para publicação que me parece bem interessante.

Basto.
Para colaborar com o pessoal junto duas fotos da minha caderneta de voo. Vou fazendo mensalmente, com uma latititude de 40 anos.
Segue do Mês de Novembro de 68 até dia 27.
Um abraço
Jorge Félix




P024-Antes da guerra (4) ...fui santinho

A minha terceira fase começou quando o padre italiano Herminio Rossetti, já um venerável ansião e, se calhar, também já com alguma falta de lucidez, achou que eu podia dar um bom padre. Os meus pais, face à perspectiva de educação gratuita para o filho, não disseram que não, pudera. Numa manhã de Outubro de 1955 lá partimos, eu e o Manuel Cavaco, que também fora arrastado para aquele objectivo, num ronceiro Peugeot. Nós atrás e dois padres, que não me lembro quem eram, à frente. Pela Estrada Nacional 1, já mais que velha naquela altura, fomos de Lisboa a Mogofores, rezando o terço pelo caminho, não vá o diabo tecê-las, ou algum buraco da EN1.
E assim comecei a minha estadia de cinco anos no Seminário Menor Salesiano. O padre Angelo Paganella, também italiano, era o director. Grande pianista e músico era também o maestro do coral do seminário. Fiz parte dele, e a minha voz deve andar por aí num 45 rotações com temas natalícios que o Valentim de Carvalho foi lá gravar uma vez. Através dos trechos de Verdi que cantávamos dei os meus primeiros passos no italiano. Va pensiero... Havia uma banda, onde eu toquei clarinete, que participava em todas as procissões lá da aldeia. Tinha piada.
Não teve grande piada quando ouvi uma prelecção a falar mal do Humberto Delgado, não é que eu na altura conhecesse o senhor mas não me pareceu bem, e também quando não me deixaram ler “O Crime do Padre Amaro”, numa aula em que se falou do Eça de Queirós... eu, inocentinho, só queria saber qual era o crime.
Na fotografia que mostro estão os do meu 5º ano. Os que lá chegaram. Não está, por exemplo, o Manuel Cavaco, pois ele, creio que ao fim de dois anos, já não estava para aquelas cenas nem gostava daquelas peças e decidiu partir para outras. Lembro-me deles todos, mas só me lembro de alguns nomes:
- com o X vermelho e a boina enterrada na cabeça sou eu;
- o 1 é o caboverdeano Jaime do Rosário, que fez parte dos Tubarões, mais tarde;
- o 2, não me recordo do nome, morreu de pneumonia no seminário, antes de acabar o 5.º ano
- o 3 é o Claudino;
- o 4 não me lembro do nome mas disseram-me que morreu afogado em Lamego durante um treino dos Operações Especiais no rio;
- o 5 é o César Vilafranca, que foi, depois, Presidente da Câmara de Castelo Branco durante vários anos;
- o 6 é o Elíseo.
De todos só um é que chegou a padre: é o 7, o Joaquim Taveira, que é agora, parece-me, o Provincial dos Salesianos. Não me admiro, pois fazia por isso. Eu e alguns dos outros ainda fomos para a fase seguinte.
Quanto ao que morreu de pneumonia, teceram-lhe muitos encómios e procuraram, dentro da tradição de apontar modelos de santidade, dá-lo como um exemplo a seguir nesta vida por todos os seminaristas.
...Mas não percebo porque é que fui eu o entronizado como santo. Eu explico:
Estava em construção a Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora e o director quis fazer uma estátua de S. Domingos Sávio (um santo da Congregação). Não sei porquê, se calhar tinha cara de santinho, mas acharam que eu podia fazer de modelo. E lá me submeti a várias sessões para a obra do artista. A construção ainda não tinha acabado quando saí desse seminário para outra etapa, mas, há anos, passei por lá e tirei-me umas fotografias. Se enfiarem uma boina na cabeça do santinho em vez da auréola, vêem logo que sou eu, rosadinho e de lábios pintados.
...E quem lá for também pode ver-me num pedestal do lado esquerdo da basílica.