terça-feira, 16 de agosto de 2011

P582 - AS CRÓNICAS DO ZÉ RODRIGUES

CRÓNICAS DAS MINHAS VIAGENS À GUINÉ-BISSAU
A PRIMEIRA VIAGEM – 1998
 
8 – Último dia nos Bijagós, em Bissau e na Guiné, ….. até um dia destes.
 
Eram as últimas horas em Bubaque e o retorno a Bissau, com a amarga sensação de que estes dias memoráveis na Guiné estavam a chegar ao fim. Como o voo para Bissau seria logo após o almoço, levantamo-nos bem cedo para desfrutarmos de mais umas horas na pequena, mas acolhedora piscina de água salgada. Foi uma manhã muito agradável, na companhia do jovem casal de noivos, e esticada até ao limite do possível antes do apronto final das bagagens e do último almoço nesta ilha. Enquanto nos deliciávamos com uns mergulhos, apercebemo-nos da chegada do avião que nos levaria de regresso a Bissau. 
 Últimos momentos em Bubaque
Acabado o almoço, na companhia de todos os hóspedes, ficamos aguardar ainda algum tempo que nos transportassem até à “pista” porque a tripulação da aeronave teria ido almoçar a outro lugar. Durante a espera dei comigo a pensar que, exceptuando-se as semelhanças da natureza no interior da ilha, esta sociedade animista, fortemente baseada na influência das mulheres, não tinha qualquer registo nas minhas memórias. Esta estadia em Bubaque mostrou-me também uma outra realidade. Conheci uma Guiné que não se sente prisioneira de memórias da guerra, tal como é latente em qualquer pequeno rincão e nos habitantes do seu espaço continental. Pensamentos! E por falar em pensamentos, é inevitável que nos assaltem alguns receios quanto ao voo para Bissau, já que não é fácil esquecer o atribulado episódio da aterragem que até aqui nos trouxera. Mas, como não havia alternativa, só nos restava confiar nos homens e na máquina. De novo no jipe lá seguimos a caminho da “gare”, uma pequena construção de tijolos e chapa de zinco, uma torradeira aquela hora do dia para quem se atrevesse a ficar lá dentro. Aqui chegados, fomos surpreendidos pela presença de dois aviões estacionados. Um, era naturalmente o nosso já conhecido velhinho biplano, e o outro era um pequeno mas moderno, elegante e colorido aparelho em que predominava o azul e branco. Perante a nossa admiração, o condutor do jipe informou-nos de que o aparelho pertenceria ao casal homossexual, que eram também hóspedes do hotel. Chegara a hora da partida. Para além de nós e da tripulação, embarcaram também dois outros europeus que não conhecíamos, sendo um deles bastante “robusto” e que nos disse depois que era o proprietário do aparelho. Motores em marcha para o aquecimento e feitas as verificações finais o aparelho começa a mover-se lentamente, quando se gera algum burburinho a bordo. Alguém se terá apercebido de que uma nova passageira, que em marcha acelerada se dirigia para o aparelho, fazia sinais para que esperassem por ela. Imobilizado o aparelho, a senhora guineense bastante cansada e ofegante lá subiu e se acomodou num dos lugares ainda vagos. Este episódio fez-me lembrar situações semelhantes que acontecem na minha cidade com os transportes públicos. Tudo resolvido e o avião faz-se à pista. A descolagem decorreu normalmente e o avião deixa Bubaque, sobrevoando a praia que frequentamos e a ilha de Rubane. Calados, expectantes e ansiosos, rogamos aos céus para que tudo corresse bem. Os últimos minutos da aproximação a Bissalanca foram de alguma turbulência mas, apesar disso, o aparelho tocou a pista com suavidade. Respiramos fundo. Com a recordação sempre presente da aterragem em Bubaque, exclamamos: desta já nos safamos. Seriam cerca das 15 horas e aqui o calor apertava. Na gare, para além dos ocupantes do aparelho, não se via uma só pessoa. De malas nas mãos dirigimo-nos para a praça defronte da gare para se arranjar um táxi que nos levasse até ao Hotti Bissau. Também aqui era o vazio. Percebi que havia falhado ao imaginar que esse elementar serviço num qualquer aeroporto estaria sempre disponível. Estava-mos a conhecer a realidade guineense e a “saborearmos” mais um dos encantos da África. O proprietário do aparelho, atento e percebendo o desconforto da situação em que nos encontrávamos, apressou-se a oferecer-nos boleia na sua viatura que estaria a chegar. Deixou-nos depois no hotel, desta feita por poucas horas. Aqui instalados, fizemo-nos à magnífica piscina para um resto de tarde de relaxe e da contemplação do bonito enquadramento em que estava integrada. 
 A banhos na piscina do Hotti Bissau
Momentos de relaxe na piscina
Outros europeus, sobretudo cooperantes, eram a nossa companhia neste hotel que era um pequeno paraíso neste pobre, mas único país. Programamos para marcar o fim da nossa estadia, um jantar no restaurante do hotel e convidamos o Candé a partilhá-lo connosco, aquele a quem passamos a considerar como Amigo e que muito contribuiu para o sucesso desta viagem. 
 Saída da piscina para os preparativos para o último jantar
Depois do prolongado jantar era a hora do transporte para o aeroporto, com uma paragem no Lusófono para uma última bebida antes do regresso a casa. 
 Paragem no Lusófono antes de embarcar
O avião partiu com o meu coração muito apertadinho por tantas emoções, mas de uma coisa eu tinha a certeza; voltarei um dia.
Senti que uma semana é sempre muito pouco tempo para um primeiro retorno à terra em que vivemos uma parcela da nossa juventude, aquela fase da vida em que escolhemos e confirmamos as nossas opções para o futuro. Mas apesar disso, e como escreveu um dia a esposa de um amigo, nesta terra é possível num só dia lançar a semente à terra, ver crescer a planta e colher as suas flores. É assim nesta terra, os dias parecem imensos e vive-se docemente sem o stress da vida agitada da nossa sociedade.
 Aqui, são tantas e tão intensas as emoções que nos envolvem e tão grande o choque com as realidades sociais e humanas, que acabamos por crescer e a aceitar o mundo com as suas diferenças e aprendemos a ser mais tolerantes e solidários. Por isso, quando se vem à Guiné é indispensável trazer na bagagem uma atitude mental de disponibilidade para se aceitar as realidades que vamos encontrar. Não devemos comparar nada. Não comparem os preços nem as condições de higiene, não comparem a qualidade dos transportes nem a qualidade de vida. Não comparem nada, mesmo nada. E sobretudo, aceitem e respeitem os diferentes usos e costumes das diferentes etnias. Não se vem à Guiné para se provar nada. O que aqui me trouxe foi a procura das minhas memórias, dos lugares, das imagens e dos interlocutores das vivências do meu passado. Vim ao encontro da minha juventude. Em troca, recebi afectos que julgava perdidos e as mais efusivas demonstrações de amizade, de respeito e até de gratidão. Vá-se lá encontrar a explicação para esses sentimentos. Talvez até nem seja difícil.
Como algo fica sempre por fazer ou por ver, como a não concretização do ansiado encontro com Galé Djaló, voltarei um dia de coração ainda mais aberto, para rever esta terra e as suas gentes. Para os que me acompanharam nesta viagem, em especial a minha esposa que da Guiné só guardava os aerogramas do nosso tempo de namorados, todos ficaram maravilhados com o povo Guineense.
Abençoada viagem
Neste momento, em que alinhavo os últimos retoques para dar por finda esta série (8) “CRÓNICAS DAS MINHAS VIAGENS Á GUINÉ - A MINHA PRIMEIRA VIAGEM – 1998”, preparo-me para iniciar os contactos para voltar á Guiné em 2012, na minha quarta viagem.
A seu tempo, para não correr o risco de ser repetitivo, vos darei um resumo dos momentos mais interessantes do conjunto das posteriores visitas e, por considerar que é no relato da primeira viagem que reside o maior encanto e a magia do reencontro com um passado, que é património da personalidade de cada um de nós.   
 Zé Rodrigues

domingo, 14 de agosto de 2011

P581 - EXPOSIÇÃO "50º ANIVERSÁRIO DO INICIO DA GUERRA DO EX-ULTRAMAR"



O Edifício dos Congregados da Universidade do Minho, no centro de Braga, tem patente a partir desta semana, e até 19 de Agosto, a exposição comemorativa "50º Aniversário do Início da Guerra do Ex-Ultramar". A mostra é promovida pelo Regimento de Cavalaria nº6, em colaboração com a Direcção de Cultura e História Militar, a Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto, a UMinho e a Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra.






No hall do edifício podem ser vistos diversos documentos alusivos ao período da guerra colonial, como fotos, mapas, livros, equipamentos, uniformes, armamento, o documentário "Guerra" (de Joaquim Furtado) e conteúdos multimédia, nomeadamente nos teatros de operações da Índia, Angola, Moçambique e Guiné. Os movimentos independentistas, os líderes africanos, a lista de militares falecidos e a propaganda salazarista são também destacados. Esta iniciativa pretende divulgar ao público em geral o contributo das Forças Armadas na História recente de Portugal e recordar aqueles que, com o seu sangue, suor e lágrimas, serviram a pátria com elevado sentido do dever e, por vezes, com o sacrifício da vida, explica a organização.


O Regimento de Cavalaria nº6, também designado Dragões d'Entre Douro e Minho, foi criado em Chaves em 1709 e está aquartelado em Braga desde 1979. Depende da Brigada de Intervenção do Comando das Forças Terrestres do Exército português. O RC6 possui um milhar de elementos, está vocacionado para o reconhecimento blindado e tem participado em diversas operações especiais e forças de intervenção um pouco por todo o mundo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

P580 - SEMENTES E ÁGUA POTÁVEL PARA A GUINÉ-BISSAU


ALMOÇO CONVÍVIO DE SOLIDARIEDADE PARA COM O POVO DA GUINÉ-BISSAU

No dia 16 de Julho a Associação TABANCA PEQUENA - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau promoveu um almoço convívio de solidariedade para com o povo da Guiné-Bissau, juntando os seus associados, familiares e amigos.

O local escolhido foi mais uma vez o jardim da casa do Manuel Graça que amavelmente, como é seu carisma o disponibilizou.
Para além da sadia convivência, tinha como objetivo final a angariação de fundos para o projeto "Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau" que a Tabanca Pequena está a dinamizar, tendo-se iniciado já a abertura do quarto poço, desta vez no norte da Guiné, em Djufunco.
Um grupo de tabanqueiros e suas esposas galvanizados com o projeto, preparou em devido tempo os petiscos.
Chegada a hora do "toque para o rancho" toda a gente foi para a fila e pacientemente esperou que as sardinhas acabassem de assar.A dose inicial de três sardinhas por pessoa com o objetivo de que toda a gente pudesse beneficiar da bela sardinha quentinha, acabada de sair da brasa, não agradou a alguns, talvez com medo que não chegassem para satisfazer o seu apetite.É que as sardinhas estavam mesmo muito boas, não estivesse lá a nosso assador mor, o Emílio Silva com toda a sua arte, saber e empenho.  Mas o Jorge Cruz, sabe bem quando ela, a sardinha, é da boa. ofereceu-nos quantidade que chegou e sobrou, como sempre tem acontecido. Um abraço de gratidão para o Jorge Cruz.
O churrasco que veio a seguir estava excelente. Também aqui, o Lino se esmerou no grelhador.
Na cozinha as dedicadas esposas de alguns camaradas, dirigidas pelo Zé Rodrigues, não tiveram mãos a medir. Eram as saladas que precisavam de molho, as batatas que precisavam de sal, sei lá!
As sobremesas foram chegando trasidas pelos convivas.
Depois vieram as papas de sarrabulho que uma amiga do Vitor confecionou com todo o carinho. Seguiu-se o caldo verde que a D.Emília, esposa do Xico nos presenteou.
Vieram os fadistas. Dois grupos com as suas guitarras. O Álvaro Basto. o nosso Presidente com o seu grupo de fados de Coimbra,que tão bem tocaram e cantaram, mas o Vitor convidou um grupo de amigos fadistas profissionais. claro que não ficaram atrás. A eles se juntou a filha do Emílio. Mas que voz ! A animação foi crescendo, crescendo que no fim algumas senhoras presentes, resolveram desafiar as guitarras e ... toda a gente cantou.
Como a tarde ia alta e a barriga dava horas, voltamos a atacar as fevras. Pobre Lino que não teve descanso...
E assim o dia chegou ao fim.
Feitas as contas, juntamos 1.460.00 € para o projeto Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau 
A todos quantos colaboraram e foram muitos, a todas as pessoas que estiveram presentes
, os nossos profundos agradecimentos.

Seguem-se algumas imagens bem elucidativas da animada festa.

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Os anfitriões

O ataque à variada doçaria

 Fados de Coimbra
Fado Castiço
A voz deliciosa do fado que nos encanta
Um pai babado. Pudera!
Concentração
Boa disposição
Alegria
E...Chegou ao fim. Enquanto uns procuravam aproveitar os últimos momentos de festa, outros foram visitar o orfeu!