sexta-feira, 14 de maio de 2010

P426- Um poema do Albino Silva

Do nosso tertuliano Albino Silva recebemos mais um pedido de publicação, desta vez expressando a sua veia poética.
Pergunta-nos a dada altura o Albino Santos como aceder ao Blogue sem ser por email.
Pois aqui vai a resposta, o Blogue tem quatro editores (que podem escrever nele) dois dos quais são administradores pelo que só esses podem acede-lo para edição. A informação está escrita no lado direito do blogue em Responsáveis de Blogue.
Um blogue tem os seus próprios critérios editoriais e ao contrário de certas páginas especialmente de redes sociais como o Hi5 ou o Facebook não tem "mural" onde cada um pode escrever o que lhe apetecer.
Esclarecido este ponto aqui vai a mensagem do Albino Silva e o respectivo anexo:

Caros Camaradas da Tabanca pequena.
Afinal sou seguidor desta Tabanca há muito tempo, embora não tenha feito nada para que ela crescesse mais.
Daí, agora mesmo acabei de escrever este "Lamento", onde espero que voces o coloquem aqui na Tabanca,
se defacto acharem que vale a pena.
É que por vezes dá-me para fazer destas coisas, e a testemunhar isso mesmo, que o diga o Moutinho dos Santos, que comandava a C. Caç.  2366, que era do meu Batalhão, e ainda o Alceu ferreira Machado, este da minha C.C.S.
Ao Clicarem na minha foto, em seguidores, logo verão todo o trabalho que tenho feito relativamente ao meu
Batalhão, e ainda outros.
Gostava que me informassem como devo aceder á Tabancapequena, Sem ser por E-Mail.
Um Grande Abraço para todos os Chefes da Tabanca,  e seus Visitantes.




Escondam-se   que   eles   vem  Aí


Foi  na  Guiné  que  Lutamos  – Nossa  Pátria  defendemos
Por  Portugal  e  Soldados  -  E  tudo  aquilo  que  sofremos …
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Rapazes  com  Vinte  Anos   -  Habituados  ao  Lar
Portugal  estava  em  Perigo  -  E  Fomos  para  a  Guiné  Lutar …
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Com  a  Nossa  Juventude  -  Deixamos  Família  e  a  Terra
De  Camuflado  e  G 3  -  Assim  nos  mandaram  para  a  Guerra …
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A  Guiné  era  Difícil  -  Toda   a  Guiné  era  um  perigo
Um  Território  pequeno  -  E  em  todo  o  lado  Inimigo …
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Eram  tantos  os  Ataques  -  Eram  muitas  Emboscadas
Eram  Armadilhas  na  Mata  -  Eram  Minas  nas  Estradas …
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Atacavam  os  Mosquitos  -  Sem  nos  deixar  descansar
Eram  enxames  de Abelhas  -  Que  nos faziam  desesperar …
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Eram  Rações  de  Combate  -  Tantas  vezes  o  nosso  comer
Era  o  Calor  e  a  Sede  -  Sem  ter  Água  para  beber …
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Eram  Chuvas  Tropicais  -  Ou  era  calor  de  Assar
Eram  Rios  e  Bolanhas  -  Que tinhamos  de  atravessar …
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Era  o  Pernoitar  nas  Matas  - Cansados  das   Caminhadas
Sentindo  o   Frio  da  Noite  -  Quando  havia  Cacimbadas …
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Com  os  nossos  Vinte  Anos  -  No  Palco  da  Guerra  então
Muitos  de  nós  sem  ter  Cama  - Dormindo  debaixo  do  Chão …
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Com  os  nossos  Vinte  Anos  -  Coisas  más  que  nós  tivemos
Naquela  Guerra  metidos  -    Deus  sabe  o  que  Sofremos …
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Com  os  nossos  Vinte  Anos  -  Na  Guiné  a  Combater
Ver  Camaradas  Feridos  -  Ver  Camaradas  Morrer …
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Depois  que  a  Guerra  Acabou  -  Deixamos  de  ser  Soldados
Sem nunca  Curar  as  Feridas  -  Ficamos  Traumatizados …

Á  casos  que  eu  conheço  -  Em  Camaradas  que  são
Uns  da  Minha  Companhia  -  Outros  do  meu  Batalhão …
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Com  muitos  Anos  passados  -  Cada  um  em  sua  Terra
Não  descansam  nem  de  Noite -  Por tanto  pensar  na  Guerra …
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Escondam-se  Eles  Vem    -  Não  deixam  ninguém  descansar
Com  Pesadelos que  Vivem  -  E  Não  param  de  Gritar …
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São  Camaradas  que  sofrem  -  Por  a  Guerra  não  esquecer
Muitos  ainda  se  julgam  -  Na  Guiné  a  Combater …
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São  Camaradas  que  Sofrem  -  Muitos  deles  estão  Mal
E  como  eles  a  Familia   -  Que  com  eles  Sofre  igual …
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Camaradas  que  conheço  -  Dos  quais  eu  vejo  Sofrer
Traumatizados  da  Guerra  -  Que  não  conseguem  esquecer …
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Muitos  estão  bem  Doentes  -  Sem  puderem  trabalhar
Vão  Sofrendo  e  nada  dizem  -    pensam  no  Ultramar …
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Fazem  Sofrer  a  Familia  -  Que  nada  podem  fazer
 Vivem  também  em Trauma  -  No  Dia  a  Dia  a Sofrer …
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  são  longos  os  Anos  -  Em  que  a Guerra  acabou
Deixamos  as  Fardas  e  Armas  -  Mas  o  Stress  ficou …
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Continuo  a  Lamentar  -  A  Pátria  que  não  nos  conhece
  não  precisam  de  Nós  -  A  Pátria  de  Nós  se  esquece …
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Esta  Pátria  Portuguesa  -  Ao  pouco  nos esta  a  matar
Porque  apenas  quer  de  Nós  -  Impostos  para  pagar …
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Eu  não  fico  espantado  - Pela  Pátria   nada  dar
Áquele  que  Combateu  - Na  Guerra  no  Ultramar …
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Nós  fomos  Bons  Portugueses  -  Pois  a  Pátria  Defendemos
A  mesma  que  nos  faz  pagar  -  Aquilo  que  nós  não  temos …
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Esta  Pátria  que  nos  despreza  -  E  nem  sequer  nos  quer   ver
 nunca    se   esqueceu   de  Nós  -  Quando  nos  mandou  Combater …
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 Já  com  tantos  Governantes -  Dos  quais  guardo   em memória
Não  sabem  o  que  foi  a  Guerra  -  Não  conhecem  nossa  História …
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Não  conhecem  os  Heróis  -  Ainda  nos   tratam  mal
São  assim  os  Governantes  -  Deste  Nosso  Portugal …
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Talvez  até  tenham  Razão  -  Mas  calado  nunca  fico
O  que  nos  pertence  a  nós  -  É  para  um  Ministro  mais  Rico …
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Camarada  Mutilado  -  Mesmo  com  Trauma  ou  Stress
A  Pátria  nos  esqueceu  -  A  Pátria  nada  merece …
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A  Pátria  nos  abandonou  -  Nós  que  fomos  Lutadores
De  Nós    querem  os  Votos  -  Pois  são  eles  os  Caçadores …
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Como  tu  fui  Combatente  -  Também  Lutei  com  Coragem
Da  Guerra  que  não  ganhei  -  Apenas  a   Camaradagem …
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Para  ti  meu  Camarada  -  Que  deixas-te  de  Combater
Morres-te  sem  seres  HEROI  -  Mas  nunca  te  irei  esquecer …
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No  Serviço  de  Saúde  - Na  Guiné  estava  eu
Albino  Silva  Soldado  -  Que  tudo  isto  escreveu …
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A  todos  deixo  um  Abraço  -  Mas  a  todos  sem  excepção
Ex   Combatentes  como  Eu  -  Na   Defesa  da  Nação …
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E  ficas  sabendo  Camarada  - Que  aqui    tem  valor
Aquele  que  nada  fez  -  Seja  o  Cobarde  e  Traidor …
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Deixo  aqui  o  meu Lamento -  Por  ti  o  deixo  também
Fomos  Úteis  para  a  Pátria -  Agora  não  somos  Ninguém …

POR  :  Albino Silva   -   Sol.  Maq.   011004/67 -  Guiné,  Teixeira Pinto,    1968 / 70 SPM.4948

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