quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

P064-Dores... ou preconceitos?

Caro Portojo
Fiz-te um "comentário" - Caro Portojo.Tens o mérito de escrever. Mas esta foi uma pedrada, só que penso que te enganaste, pois os charcos são noutros lados...Para melhor saber, gostava que me dissesses em que número do JN saíu esse comunicado da ANS. Abraço - mas não me respondeste. Hoje, o Álvaro Basto publicou uma nota da Lusa com ele. E eu li hoje também(07.01.09) esse comunicado no JN. O teu post referia-se a uma notícia do JN de 06.01.09. Estavas adiantado... Como é que a Lusa publica a 06.01.09 e tu dizes que o JN o tem nesse dia e eu só o li a 07.01.09?...
Falas no "poder infiltrado nas FA" e nos "tais infiltrados do governo"... mas não entendo quando dizes que "o partido manda dizer pela ANS...". Então, "o partido" não são os "infiltrados do governo"?... Não é o PS?!... Baralhaste-te, é claro. Querias-te referir àquele que sempre foi, desde o tempo da ditadura, "o partido", o PCP. E tu, anquilosado político, queres acusar a ANS de ser influenciada pelo PCP. Estás na linha do que era no tempo salazarista: quem está contra é comunista. Mas espanta-me que ainda assim seja.
Sabes muito bem que "420.480 escudos. Por cada homem das FA impostos já deduzidos" (és tu que dizes, não a ANS) não é verdade. É o que ganha um soldado, um cabo,um sargento, um alferes?... É malicioso. Estás a dividir uma galinha por não sei quantos e a dizer que cada um come galinha.
Indo às tuas mágoas da guerra, meu amigo, que também são minhas, devo dizer-te que nunca tive rennies para me afagar o estômago nem nunca comi lombo de porco assado na Guiné. Nem com gordura.
Finalmente ( por agora...), tens tantos sítios para onde amandar pedras... porque te lembras-te de amandar uma pedrada para as FA? Aliás, não entendo, porque aproveitas a Associação Nacional de Sargentos, quando ela apenas fez um comentário na base de dados estatísticos oficiais (não sou sargento, atenção!). Até conheces o seu Presidente, segundo me disseste. Haverá algum quid pro quo?

P063-Ainda o artigo da ANS


Para que todos possamos ajuizar mais correctamente sobre o que fala o Portojo no poste 062, aqui se reproduz o referido artigo da Associação Nacional de Sargentos.
Reafirmo o cuidado a ter na interpretação dos números que o artigo cita para não se cair em conclusões precipitadas.
Lembrem-se da história do frango para quatro pessoas, três das quais que não gostavam de frango. Em média cada um comeu 1/4 do frango !!!!


Lisboa, 06 Jan (Lusa) –
A Associação Nacional de Sargentos (ANS) divulgou hoje um documento onde demonstra que, de acordo com um anuário estatístico de 2006, os militares portugueses dos três ramos ganharam em média 2,88 euros por hora.

Segundo as contas feitas pela ANS, com 1.160.000.000 de euros gastos com 36.780.000 elementos em serviço efectivo durante 24 horas e 365 dias por ano, cada militar ganhou 2,88 euros por hora em 2006, de acordo com o anuário estatístico respectivo, "o mais recente disponível".


Multiplicando os 36.780.000 militares pelas 24 horas do dia e posteriormente pelos 365 dias do ano, o total são "322.192.800 horas de prontidão para servir", refere a associação.


Assumindo que a "média de descontos" para o IRS e Segurança Social é de 20 por cento - e retirando essa percentagem aos 1.160.000.000 euros gastos em pagamento de salários -, o resultado são 928.000.000 euros a dividir pelos três ramos, Exército, Força Aérea e Marinha Portuguesa.


Dividindo os mais de 900 milhões de euros pelas cerca de 320 milhões de horas de serviço, a ANS chegou aos 2,88 euros pagos a cada militar.


"Isto terá sido quanto o país investiu no pessoal que faz funcionar num dispositivo 24 horas por dia, todos os dias do ano, em quaisquer condições e que cobre uma gama de serviços públicos que vão desde o transporte de titulares de órgãos de soberania e organismos oficiais, à abertura de caminhos e construção de pontes, da segurança e navegabilidade nos espaços marítimo e aéreo até à salvaguarda da vida no mar, evacuação de doentes e sinistrados", exemplifica a associação militar em comunicado.


De acordo com o anuário estatístico de 2006 referido pela ANS, só a Marinha e a Força Aérea terão salvo quase quatro mil pessoas em missões de apoio ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) ou "em evacuação e resgate de embarcações na orla marítima".


"O conceito das Forças Armadas como um serviço público tem, ao longo dos anos, sido ocultado e mesmo combatido dentro e fora dos quartéis, de dentro, muitas vezes inspirados por conceitos induzidos pelo poder político, defendendo que os militares existem só para combater onde quer que haja guerra", critica a ANS.


Para os Sargentos, também os partidos políticos "que ao longo dos últimos 32 anos têm governado o país" têm contribuído para "esvaziar as Forças Armadas de capacidade" e para uma separação entre militares "e o povo a que pertencem, de onde emanam e que servem".


Alvaro Basto

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

P061-Convite à amiga Lu


Enviei este bouquet à nossa amiga "comentadora" Lu. É para que se junte à nossa tertúlia. Com direito a sardinhas, claro! Há já apoios nesse sentido.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

P060- O David Guimarães e o Fado de Coimbra

Como todos sabem o David Guimarães toca num grupo de Fados de Coimbra de grande valor, o Grupo do Choupal até à Lapa.
Eis aqui um pequeno enxerto de um espectáculo realizado no cinema Batalha há algum tempo.
Espero que gostem


sábado, 3 de janeiro de 2009

P058-O Nosso Almoço do Ano Velho

Melhor que palavras, as imagens contam bem a história do nosso ultimo almoço do ano 2008

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

P057-Um poema de Natal do Zé Manel para a Tertúlia


Na quarta passada o Zé Manel falou-me de uma pequena poesia que havia feito num dois Natais passados longe na Guiné. Desafiei-o a partilhar isso connosco e eis o que recebi dele por e-mail:

Os Natais até 72, eram momentos muito especiais, em casa de meus avós maternos, com os meus seis irmãos, todos mais novos que eu, os meus tios, muita,muita gente, pois até os empregados da casa jantavam connosco numa enorme mesa. Depois do jantar os mais novos ouviam deliciados as estórias da minha avó Glória, outros jogavam ás cartas matando o tempo enquanto se aguardava a chegada do Pai Natal que deixava as prendas na lareira da cozinha onde secava o fumeiro. Em 1972 tudo foi muito diferente. Uma enorme angustia que começou muito antes do dia 24 de Dezembro. Os dias iam passando devagar com uma vontade enorme de adormecer e só acordar no dia seguinte ao Natal.Mas fomos descobrindo aos poucos que nesse ano também tinha de haver Natal e tivemos de inventar uma família e ela nesse ano foi o Carvalho, o Nina , O Vieira, O Simões, o Farinha, O Polínia, O Vilas Boas, O Fernandes e também houve crianças. o Amadu, a Fati , o Seidi e muitos mais... Houve bacalhau num enorme jantar na escola de Mampatá e até batatas imaginem., o Martins Furriel Vagomestre arranjou esse milagre, e houve vinho, houve alegria e alguns choraram. eu dias antes tinha escrito algo assim:

O calor húmido nos envolve
abraça-nos a escuridão
e a noite se faz dia
co ribombar do trovão
cai água em catadupa
numa suave carícia
fecho os olhos...
que delícia!
até sinto um arrepio
sinto-me bem afinal
e penso que é Natal!..."

Zé Manel Lopes




P056-Antes da guerra (6) ...quando a cabeça já estava à tona d'água na minha "manhã submersa" - II

Depois destes dias de jingle bell, bom natal, feliz ano, tantas prendinhas para o menino, vê lá não bebas muito, não chateies ninguém porque é dia de festa, vou voltar ao que nunca esqueci, aos meus tempos de seminarista em Manique. Vai mais um copo.

Mas, primeiro, deixem-me lembrar novamente Virgílio Ferreira na sua "Manhã Submersa":
«(...) Estranho poder este da lembrança: tudo o que me ofendeu me ofende, tudo o que me sorriu sorri: mas, a um apelo de abandono, a um esquecimento «real», a bruma da distância levanta-se-me sobre tudo, acena-me à comoção que não é alegre nem triste mas apenas «comovente»... Dói-me o que sofri e «recordo», não o que sofri e «evoco».

3 de Maio de 1961 - Depois de ouvir as façanhas dos soldados portugueses em Angola, ponho-me no lugar deles. Sonho com mil combates dos quais sou o herói... Tenho muitos sonhos desses. A maior parte das vezes saio vencedor, mas há vezes em que morro. No entanto, é sempre cercado de glória, sempre como um herói, sempre louvado e recordado pelos vivos. E eu, mesmo depois de morto, assisto à minha exaltação, ouço os comentários desvanecedores e o meu nome pronunciado por milhares de bocas, com uma série infinda de pontos de exclamação e admiração... Mas, quando acordo, acho melhor estar vivo.
15 de Maio de 1961 - O Gonçalves contou-me a história daquele seminarista que, desgostoso com a sua vida de clausura, despiu a sotaina, pendurou-a numa figueira e fugiu, saltando o muro do seminário. Também a mim me dá desejo de deixar esta grandessíssima porcaria. Se eu ao menos encontrasse uma figueira para pendurar todos os meus comlpexos, todas as minhas frustrações, todas estas cadeias que me rodeiam dia a dia e nas quais eu me vou deixando enlear... Falei com o Director Espiritual sobre os meus problemas sexuais. Mas que grande merda! Julga-me uma criança... “Estás a tornar-te um homem”. Há mais de três anos que me andam a dizer isto. Ainda não terei mudado nada?! E dão-me a ker livros que eu já devia ter lido há mais de três anos... Essa literatura para mim já não apresenta novidade nenhuma. Quando me dão a ler livros desses já eu há muito tenho ultrapassado o que neles vem escrito. E de que maneira! Além isso, como pode dar resultado uma direcção espiritual que sou obrigada a ter com um indivíduo que para isso é uma autêntica nulidade?
18 de Junho de 1961 - Hoje apetece-me saltar o muro... Mas, ai de mim se o salto! Serei tido como ladrão, hipócrita... Andei a enganar os superiores! Malandro! Roubei todos aqueles contos de réis que a congregação gastou com a minha educação. Serei verberado nas conferências, nas aulas. Coitado. Aquilo que tiver dito em particular será relatado da cátedra. Cátedra... que gozo. Como esse móvel por si tão nobre tem sido tão ultrajado! Serei verberado da tribuna do charlatão – isso sim – do charlatão que aproveita a falência do seu rival para valorizar a sua mercadoria. Como ficam fulos estes idólatras quando o seu deus cai do pedestal!... Se o ídolo ainda ficou incólume, tratam eles de o afeiar. Depois, pregam aos outros o Deus verdadeiro, irritados pelo seu erro... É um género de vingança, porque me deixaste ficar mal.
7 de Julho de 1961 - As insinuações serão uma táctica pedagógica?... Talvez façam parte da tão apregoado sistema preventivo, do qual têm tanta cagança...
16 de Julho de 1961 - Talvez eu tenha sido sincero demais. Quantos o terão sido como eu?... Eu e a minha estupidez, a minha infantil boa fé. Por ter falado das minhas masturbações sofro agora as consequências.
31 de Julho de 1961 - Submeto-me à vossa vontade, meu Deus, mas peço-vos permitais que eu desabafe a minha dor no pranto, na solidão. Mas acho que já tenho chorado demais para a minha idade e a solidão tem sido, nestes últimos dias, minha fiel companheira. Fiel, muito fiel. Por toda a parte. Mesmo quando estou com os outros. Não viestes vós trazer o amor ao mundo?... Mas não o vejo nem sinto. Quando julgo ver ao longe a sombra desse amos – aquele com que eu sonhei! – corro, mas – oh, desengano! – tanto mais dolorosa é a desilusão quanto mais desejado era o ilusor. Não era aquele o vosso amor? Aquele amor com que eu sonhei não é o que vós viestes trazer ao mundo? Se é, para que trouxestes, então, um amor que atormenta as aspirações humanas? Um amor que a maioria não atinge?... Um amor não para todos, mas só para os eleitos?...
6 de Agosto de 1961 - A maior dor de quem sofre é ser desconhecida a sua dor. Quando se sofre é sempre bom ter alguém que compartilhe da nossa dor.
15 de Agosto de 1961 - Começa a atacar-me a tristeza. Como são salgadas as lágrimas da dor!...Hoje rezei. Aguns rezam com uma esperança florida, o coração em festa. Outros haverá, certamente, como eu, que rezam orações de defuntos, nos lábios uma flor fanada...
16 de Agosto de 1961 - Muita alegria externa, muita dor no coração. Sabes, papel, o que é andar triste quando os outros estão alegres?... Sabes o que é não poder participar na alegria dos outros?... Estar triste pelo mesmo motivo por que os outros estão alegres?...
25 de Setembro de 1961 - Como são ridículos os juízos humanos! Que sabem aqueles senhores do Capítulo para poderem julgar? Quinze dias antes passeiam a consciência pelos corredores, por entre os cedros, espreitando com afã... Depois, em reunião, podem, com a consciência descansada, deixar escorregar pela caixa um miserável feijão preto. Um feijão preto que dará forças a um pobre para muitas noites e muitos dias?... E o Espírito Santo?! O Espírito Santo é Deus, e Deus só pode permitir o mal, nunca querê-lo – assim pregais!
25 de Outubro de 1961 - Vi no céu uma estrela cadente. Será a minha?... Não, porque no céu não brilha a minha estrela. Percorre outros caminhos, triste.
18 de Dezembro de 1961 - Falou-se muito sobre Goa. Os goeses Óscar e o Fremioth acham que foi natural, pois Goa é Índia. Se calhar têm razão.



O "terrorismo" em Angola e a "invasão" de Goa eram temas muito falados pelos padres, sempre dentro da linha governamental, claro.