segunda-feira, 6 de setembro de 2010

P486-Adeus Guiné



A canção «Adeus Guiné» fez 38 anos



A propósito deste aniversário, Jorge Ribeiro, nosso camarada tabanqueiro e membro da nossa associação, enviou para o blogue alguns dados interessantes. Diz ele que:
«Houve mais canções. Aliás, são largas dezenas os títulos que o tempo de Guerra produziu, mas a maioria é de qualidade mais que duvidosa. Isso não impediu, contudo, que algumas dessas canções se transformassem em grandes êxitos populares. Adeus Guinéfoi um deles, vigorou nos últimos dois anos na Guiné e há quem ainda hoje a procure na Net - para recordar...
Segundo o livro Marcas da Guerra Colonial, de 1999, onde se encontra o mais completo estudo sobre as Canções da Guerra, pode ler-se que apesar da extensa lista das canções deste tipo, é fácil detectar a utilização de apenas três grandes temas: 1) a despedida e a partida para a guerra; 2) a estadia na guerra, as saudades e o desejo de regresso; 3) a resposta aos apelos da Pátria e o cumprimento do dever».
Entende por «êxitos» aquelas canções que venderam mais discos e obtiveram mais projecção na rádio, e, intressado como escritor e veterano de guerra que é, Jorge Ribeiro destaca as canções «Eterna despedida», pelo Conjunto de Nel Garcia, «Eu vou-me embora», pelo Conjunto Típico Os Celtas, «Vou partir para Guiné» do Conjunto Típico Santo André, «Adeus Mãezinha até voltar», do Conjunto de Francisco Gouveia, «Adeus minha mãe, adeus» do Conjunto Típico Asas d’Ouro, «Adeus Querida Mãezinha» do Conjunto de Cerqueira Pinto, e «Despedida de um Soldado», do Conjunto Regional Costa Verde.
«Estes foram os verdadeiros tops de vendas em Portugal» - diz. «No entanto, o primeiro lugar ficou marcado por uma canção gravada em 1968 pelo Conjunto de Oliveira Muge, de Ovar: A Mãe, escrita por António Policarpo de Oliveira e Costa.
No segundo grupo, canções como Mãezinha não chores mais, dos Celtas, e Canção de um soldado, por Francisco Gouveia, acompanharam durante anos o cantarolar pelos aquartelamentos, quantas vezes picada fora. No terceiro grupo, o dos deveres a cumprir ou já cumpridos, merecem destaque as canções Alerta, Sentinela, por José Reis e a Orquestra de Resende Dias, Sou português de raça, pelo Conjunto Regional Estrela Dourada, que traduziam em termos simplistas a vontade, o orgulho e a satisfação de ir defender a Pátria. Também neste grupo, revela o livro que vimos a citar, o título Adeus Guiné, de Tony Correia (António Rodrigues Correia) obteve um sucesso desmesurado. Registou inúmeras versões pelos conjuntos de Armindo Campos [Ver aqui o que o nosso Albano Costa diz sobre o Conjunto Típico Armindo Campos], Mota e Costa, Alegria & Ritmo, José Nobre, Banda de Monção, e Conjunto de Miguel Oliveira. Qualquer actuação ao vivo e todos os programas de discos pedidos incluíam sempre Adeus Guiné - que agora completou 38 anos».
E dá-nos a letra do "Adeus Guiné" do Tony Correia:

Mas refere que, na internet, concretamente do blogue “reflexões e outras divagações", corre uma letra sobre o mesmo tema e com o mesmo título, que também suscita curiosidade:



Adeus Guiné

Adeus pessoal adeus malta
amanhã vou-me embora
esta guerra não faz falta
está chegando a minha hora

Adeus paquete Uíge
dias e noites a navegar
levaste-me do meu país
para terras de além-mar

Adeus Guiné e Mansoa
vou fazer a despedida
andei dois anos à toa
sem saber da minha vida

Adeus maldita guerra
arrastaste-me até aqui
és a coisa pior da terra
e eu não gosto de ti

Adeus amigos e companheiros
foram a minha família aqui
nestes tempos traiçoeiros
e durante o tempo que vivi

Adeus tempo que já passou
adeus vida embrutecida
que a mim também amassou
grande parte da minha vida

Adeus selva e capim
carreiros e baga-baga
tudo me roubaram a mim
nesta vida desgraçada

Adeus tristeza e solidão
adeus tabancas e sanzalas
quantas vezes rastejei no chão
para me proteger das balas

Adeus refeitório sem condições
adeus vagomestre e cozinheiro
serviam as piores refeições
para ficarem com o dinheiro

Adeus oficiais superiores
adeus comandante e graduados
vocês ganhavam louvores
nós éramos os desgraçados

Adeus capitão Barradas
despeço-me com um abraço
pelas lágrimas derramadas
que fluíram na sua face

Adeus cais de embarco
adeus cais da despedida
eu da guerra fiquei farto
para o resto da minha vida

Adeus aos que tombaram
pela Pátria a combater
para sempre lá ficaram
eu jamais irei esquecer


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