domingo, 8 de abril de 2012

P628-ESTAR SOLIDÁRIO NA VIDA E NA MORTE


LUÍS 
A perda de um PAI é sempre irreparável, mas nada nem ninguém te vai roubar a sua doce memória e o seu exemplo inspirador.
 

Porque e a vida é feita infelizmente também destas coisas, cumpre-nos informar que faleceu o pai do nosso querido, mais que camarada, amigo, Luís Graça


 

 

 

 O Luís enviou esta mensagem aos camaradas amigos do blogue da Tabanca grande

Amigos/as, camaradas, camarigos:
Era o meu pai, o meu velho, mas também o meu camarada... Partiu agora para a sua última viagem. Sereno. Teve tempo, desde 5ª feira, para se despedir de todos os seus filhos, netos e bisnetos, mesmo os que estavam longe, em Candoz, no Fundão ou em Londres. Morreu hoje às 9h45. Quando lhe dei o último beijo, às 10h, o seu corpo ainda estava quente. Eu gostaria de morrer assim. Com dignidade. Tive o privilégio de ter estado a seu lado nestes últimos três dias.
Boa e santa Páscoa para todos/os. Luís Graça.
Os camaradas da TABANCA PEQUENA DE MATOSINHOS estão contigo nesta hora de dor pela perda do teu pai - o teu velho e camarada como meigamente lhe chamavas nos teus escritos e belos poemas com este que lhe dedicaste no último dia do pai que com ele conviveste. 

 

Meu pai, meu velho, meu camarada : Bo vida ta na balança...  

Meu pai,
Meu velho,

Meu camarada…

Sinto que estás a chegar ao fim,

Sinto que estás a desistir,

Sinto que estás com poucas ganas de lutar

Contra o inexorável fim…

É com um aperto no coração

Que te vejo aí deitado no teu cadeirão articulado,

Do Lar de Nossa Senhora da Guia,

Na Atalaia da Lourinhã,

Com as velhas canadianas definitivamente arrumadas a um canto…

Onde está o teu proverbial sentido de humor,

Quando brincavas com as tuas canadianas,

Dizendo que tinhas trocada uma velha por duas novas ?!…

Onde está o teu gosto jovial pela anedota,

Pelo verso de improviso,

Pelo dito sempre apropriado

Para cada conversa, para cada ocasião ?

(Sempre brejeiro, sem nunca dizer um palavrão!)


Meu pai,
Meu velho,

Meu camarada…

Sinto que está agora mais difícil, para ti,

Prosseguir a viagem…

Eu já não queria que fosses até ao km 100,

Da autoestrada da vida,

Queria que chegasses ao menos até ao km 92,

Devagarinho,

Um dia de cada vez,

Sem dores,

Com o teu sorriso doce

E com o segredo da tua alegria

Que contagia(va) tudo e todos...

Queria que chegasses, para já,

Até o dia 19 do próximo mês de Agosto,

Dia dos teus anos,

Para a gente poder vcoltar a ouvir de novo os dois,

Numa cumplicidade pai/filho.

Aquela coladera perferida
Aquela que eu te ouvia cantarolar, desde miúdo,
Sem nunca entender, ao certo,  a letra em crioulo...

Lembras-te ?

Se bo ta moda um tracolança

'M ca sabê

Se bo vida ta na balança

'M ca e culpode (**)...


 Se calhar estou a ser egoísta,
Miseravelmente egoísta,

E a subestimar ou menosprezar os teus avisos:

“Isto tá bera, Lis Manel”…

(É assim que me tratas,

Sempre me trataste,

Por Lis Manel).

Claro que eu vou brincando contigo,

Vou-te animando,

Vou-te desafiando para ir comer um peixinho,

Desafiando-te para ir ver o mar,

Não o mar azul da baía do Mindelo,

Aonde nunca mais voltaste, 

Mas o mar do Cerro da tua infância

Com as  Berlengas ao fundo...

Para limpar a vista, como  tu gostas de dizer... 

Anda, anda a tomar o teu café com o cheirinho,

No bar dos Cinco Paus,

Na Praia da Areia Branca...

Que eu vou pedindo a tua amarelinha em balão:

“Tome (nunca te tratei por tu)

Que no céu não há disto!”…



O que te prende à vida, meu velho,

Mesmo sabendo que és um homem de fé ?

A tua velha companheira,  

A minhã mãe,

A tua
cachopa, agora muda e queda,
Ali a teu lado,

Na Senhora da Guia ?

Os teus filhos, netos e bisnetos,

Que já são tantos que dão

Para fazer duas equipas de futebol ?

Já não queres ir à vila,

Já não queres ver os teus amigos

Do banco do jardim,

Do Largo da Igreja,

Já não te interessas pelos resultados do teu Benfica,

Já deixaste de escrever o teu diário,

Já não jogas às damas,

Já não lês a Bola,

Já não ouves, na rádio,  o relato da bola,

Já não vais à bola ao domingo,

 Nem gritas aos jogadores do Lourinhanense:
“Quem ganha é quem corre,

Quem ganha é quem corre!”…



Já não corres, meu pai,

Grande ponta direita,

Velha glória de clubes de futebol

Sem história,

As pernas tramaram-te,

Já correste tudo o que tinhas a correr

Pela vida fora, na labuta da vida,

Nos campos de futebol e fora deles…

Já não corres,

Mas ainda continuas a ganhar,

Meu velho,

A marcar pontos,

Meu camarada…

Os dos exemplos de bondade,

E de humanidade,

E de coragem

E de sabedoria,

Que eu gostaria de poder transmitir aos meus dois filhos

E aos meus netos (quando os tiver)…



Um bom dia do pai,

No Dia do Pai,

Para ti,

Meu pai,

Meu velho,

Meu camarada!



Alfragide, 19 de Março de 2012

Luís Graça
 

Ao querido amigo e irmão Luís, apresentamos em nome da Tertúlia da Tabanca de Matosinhos os mais profundos sentimentos de solidariedade.
José Teixeira  

 

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