terça-feira, 28 de setembro de 2010

P491 - GRUPO DE ONGs ABRE LOJA PARA ESCOAR PRODUTOS LOCAIS

"CABAZ DI TERRA"

Um grupo de organizações não governamentais da Guiné-Bissau juntou-se e abriu a loja Cabaz di Terra, em Bissau Velho, com o objectivo de comercializar produtos locais e tradicionais daquele país.

A Cabaz di Terra põe assim à disposição de guineenses e estrangeiros produtos fabricados no país e que, muitas vezes, são difíceis de encontrar, como o mel. 
"Esta loja tem o principal objectivo de aproximar o produtor do consumidor. É uma estrutura colectiva de auxílio à comercialização de produtos essencialmente locais e tradicionais", afirmou à agência Lusa Palmela Ferreira, coordenadora daquele espaço. 
Segundo Palmela Ferreira, a ideia de abrir a loja surgiu num fórum de produtores e visa essencialmente fazer escoar os produtos. 
Na loja, é possível encontrar malas, toalhas de mesa, colchas, cortinados fabricados no tradicional pano pente, bem como produtos alimentares, que vão desde o óleo de palma até ao arroz fabricado no país. 
Para o futuro, segundo Palmela Ferreira, o objectivo é transforma o Cabaz di Terra numa "marca para entrar no circuito do comércio justo" e começar a exportar para locais onde existam grandes comunidades de guineenses. 
"A comunidade guineense fora tem necessidade de determinado produtos e não encontra", disse.

In NOVAS DA GUINÉ-BISSAU
Zé Teixeira

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

P490-Napalm na Guiné


Interessante. A Disciclopédia diz que:


«O napalm é um pó solúvel similar ao Ovomaltine, Nesquik e Nescau, e, assim como esses, dá mais energia para o seu dia. Também é utilizado como um agente desfolhante, como substância entorpecente e como um substituto do Tabasco no Bloody Mary. Algums dizem que ele também é usado na fabricação do Lico de Cair Pinto. Este maravilhoso produto é produzido exclusivamente com palmeiras especiais plantadas perto de Nápoles, na Itália, sendo por esse motivo chamado de napalm (Napolis Palm - Palmeira de Napolis). Também é importante ressaltar que o napalm é um importante componente em todas as pílulas de emagrecimento, devido à sua grande capacidade de queimar calorias. É preciso no entanto lembrar que não é recomendada a ingestão de compostos de napalm com estômago vazio, pois o mesmo poderá provocar azia e garantir que qualquer peido inutilizará as suas cueca e as suas calças ..»

Mas o que é o napalm como armamento? É um conjunto de líquidos inflamáveis à base de gasolina, sendo o napalm, com eles misturado, o agente para tornar mais ou menos sólidos tais líquidos. Ficam, assim, um gel pegajoso e incendiário.

Os historiadores António de Araújo e António Duarte Silva (in O uso de NAPALM na Guerra Colonial - quatro documentos. Relações Internacionais, jun. 2009, no.22, p.121-139) conseguiram desenterrar alguns documentos, secretos ou muito secretos, onde se fala desta arma usada na guerra colonial. Num deles, datado de 9 de Maio de 1973, o Ten-Cor. José Luís Pereira da Cunha, do Gabinete do CEMGFA, diz que:

«Utilizar napalm ou uma arma nuclear táctica sobre um posto militar parece mais tolerável do que apunhalar ou fuzilar homens, mulheres ou crianças não empenhadas na luta, ou de colocar uma bomba, uma armadilha ou qual quer arma capaz de criar vítimas indiscriminadas».

E, apontando “factos concretos sobre a utilização dos incendiários nos T.O. ultramarinos”:

«a) Os Comandos Chefes e Comandos de Regiões Aéreas do Ultramar reduzem-se mínimo as operações “napalm” e rodeiam nas do maior sigilo possível (como há muitos executantes intervenientes tal sigilo não se pode garantir a 100%).

b) Para os fins que houver por convenientes indicam-se elementos de utilização os quais bem demonstraram a sua criteriosa e limitada utilização:

(1) ANGOLA

Utilização interdita do NAPALM, na medida em que é muito pouco eficaz em relação aos objectivos existentes neste Teatro de Operações. Excepcionalmente, em situações de intervenção de emergência associada a carência de “tectos” (que torna proibitivo o uso de outros tipos de bombas) o NAPALM é utilizado muito limitadamente, após estudo e referenciação de objectivos nitidamente militares.

(2) GUINÉ

É neste Teatro de Operações que, tacticamente, mais se carece da utilização de meios incendiários. Há ordens rigorosas para redução ao mínimo da sua utilização e em todos os casos são tomadas medidas de informações, estudo e referênciação dos objectivos a fim de evitar que elementos da população sejam afectados pelo seu emprego..O consumo médio mensal verificado é o seguinte:

Bombas incendiárias 300 Kgs 42

Bombas incendiárias 80 Kgs 72

Granadas incendiárias M/64 273

Nota: A imperiosa carência táctica justifica os eventuais inconvenientes de ordem política os quais sempre existiram visto que a sua não utilização não limitaria as acusações sistemáticas da propaganda inimiga.

(3) MOÇAMBIQUE

Utilização muito parcimoniosa em condições idênticas ao T.O. Angola. Desde 1968 até final de Fevereiro de 1973 o consumo médio mensal verificado é o seguinte:

Bombas incendiárias 300 Kgs 14

Bombas incendiárias 80 Kgs 47

Granadas incendiárias M/64 29»

Um exemplo:

Referindo que o General Schulz considera a Ilha do Como uma ZLIFA (Zona Livre de Intervenção da Força Aérea), o Major-General PilAv José Duarte Krus Abecasis, num artigo publicado na “Revista Militar” de 17 de Abril de 2009, aponta o lançamento de 100 toneladas de bombas nas noites de 17, 18 e 19 de Dezembro de 1965 com aviões Neptuno P2 V5 e Dakota modificado. Publica também fotografias de um ataque com bombas de napalm (as legendas são dele):

Não sei se naquelas moranças só havia guerrilheiros. Se calhar tinham lá as famílias.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

P489-As crónicas de um bom malandro

Pois desta vez não há desculpa possível.
Foram férias e mais férias, convulsões domésticas com despedimentos à mistura e sobretudo preguiça.... Muita...muita preguiça.

A ultima crónica sobre os nossos almoços semanais referia-se ao do dia 24 de Agosto mas praticamente desde 28 de Julho que não são tornadas públicas as listas das presenças, a aposta do euro milhões e os balancetes tanto do Fundo para a Clínica de Bor como do Projecto das Sementes e Água Potável o que é no mínimo inaceitável, quando uma das nossas politicas mais apregoadas tem sido a da transparência.
Vamos ver se com este acto de contrição as coisas levam outro rumo e voltamos de novo a ver por aqui semanalmente senão as crónicas dos almoços que se tornam excessivamente  repetitivas, mas pelo menos as listas dos presentes, candidatos ao euro milhões,  a respectiva aposta semanal e a evolução dos fundos para ao Hospital de Bor e para a abertura de novos poços.
Como sabem as fotografias são publicadas semanalmente na nossa página do Facebook e podem ser individualmente comentadas por quem quer que seja que a elas tenha acesso.
Gostaria de vos deixar aqui a notícia que teoricamente já somos uma Organização sem Fins Lucrativos já que estão ultrapassados os prazos de analise e nada nos foi obstaculizado pelo IPAD.
Aguardamos a informação da publicação em Diário da República e voltaremos a este tema logo que haja notícias frescas.

Seguem-se os quadros das presenças e respectivas apostas do euro milhões relativos às seguintes datas:
04-08  11-08  18-08  25-08  01-09  08-09 e 15-09
Do almoço do dia 04-08 não foi feita qualquer aposta no euro milhões. Infelizmente nas restantes a sorte também não quis nada connosco.
Como podem verificar as apostas tem saído todas em branco.























 Seguem-se os balancetes do Fundo Para o Projecto de Ajuda à Clinica de Bor e do Projecto das Sementes e água Potável que têm vindo a sofrer uma evolução francamente favorável com a participação de muita gente quer de dentro quer de fora da Tabanca, o que nos enche de orgulho e esperança.
Bem haja a todos quantos continuam a contribuir para estas nobres causas.




sábado, 18 de setembro de 2010

P488-O caçador e o crocodilo


É um conto guineense que se encontra no livro "O crioulo da Guiné-Bissau, Filosofia e Sabedoria", de Benjamim Pinto Bull. Esta imagem é de um desenho de Cathie Peyredieu Pinto Bull e está no livro ilustrando o conto. Vai em crioulo e e português, como está lá, para relembrar aqueles falares. Parece-me esta "storia" uma dúvida da filosofia africana sobre o conceito moral do "fazer bem sem olhar a quem", além de um alerta para o cuidado a ter com as "feras" que, apesar das falinhas mansas, sempre devoram tudo, pois é o que lhes está na natureza e na sua tradição. Além de uma recomendação para a atenção a ter com aqueles que connosco conviveram e nos foram úteis na vida, para não provocar a vingança dos defraudados e abandonados. E que as soluções podem vir dos mais simples, mais indefesos e mais pequenos no meio da “floresta”.
O caçador e o crocodilo (Montiadur ku lagartu)
Um caçador foi à caça; deparou-se com um crocodilo, que também estava à espera de uma vítima. Quis o caçador matá-lo, porém o crocodilo suplicou-lhe para lhe não tirar a vida, dizendo (Montiadur sai pa ba montia, i ba oca lagartu tambe sai montia; i misti fugial, kil pidil):
- Vim cá simplesmente à procura de qualquer coisa para matar a fome. Não encontro o caminho do regresso. Leva-me, por favor, até à margem do rio (Ten pasensa, ka bu matan; n bi nã sõ buska kumida. N bin iara ku kamiñu di riba; ten pasensa, leban roda di riu).
Respondeu-lhe o caçador(Montiadur falal):
- Eu bem queria levar-te, porém receio que me comas (N misti lebau, ma n ka osa, bu ta Bin kumen).
- Juro que não te como (Kil juramenta kuma i ka ta kumel).
Propôs-lhe então o caçador (Montiadur falal):
- A não ser que te amarre a boca (Sõ si n marau boka).
Atalhou o outro (Kil falal):
- Amarra-me a boca (Maran boka).
O caçador amarrou-lhe a boca com uma corda, em seguida, ligou-lhe todo o corpo a um pau, e levou-o às costas até à margem do rio. Chegados ao destino, o caçador quis pô-lo no chão; o crocodilo pediu-lhe (Montiadur maral boka ku korda, i maral kurpu na po, i kargal pa lebal riu. Oca ke ciga na roda di riu, montiadur misti disil. Lagartu pidil):
- Leva-me para mais longe (Leban ma lunju).
O caçador entrou na água até aos joelhos. Suplicou-lhe o crocodilo de novo (Kil lebal tena kau k’ iagu ta cigal na juju. I misti disil, kil falal):
- Leva-me ainda um pouco mais longe (Leban ma lunju, tem pasensa).
O caçador aceitou. Disse-lhe então o crocodilo (I lebal ma linju, i disil. Lagartu rabida i falal):
- Desamarra-me a boca, caso contrário não poderei comer (Dismaran boka si ka sin n ka ta pudi kume).
Assim que o caçador lhe desamarrou a boca, o crocodilo disse-lhe (Montiadur ka dismaral boka, lagartu falal):
- Prestaste-me, é certo, um serviço, mas agora tenho que te comer, única e exclusivamente para respeitar a nossa tradição; os meus pais comiam todos os homens quantos encontravam pelo caminho (Bu judan me, ma gosi n na kumeu suma k’ ña pape, ku ña donas ta fasi ba pekadurus ke ta paña ba).
Foi a vez do caçador de pedir com insistência para não ser comido. O crocodilo rejeitou categoricamente tal pedido. O caçador fez-lhe então a seguinte proposta (Montiadur falal):
- Estou inteiramente de acordo que me comas, mas proponho que previamente peçamos parecer de três transeuntes (N seta pa bu kumen, ma purmeru no tem k’ punta tris limarias k’ na bin pasa li: ken ke tem rasõ?).
Um cavalo velho foi o primeiro a passar por lá. Cada um lhe contou a aventura a seu modo. Escutou com muita atenção as duas versões, depois dirigiu-se para o crocodilo (Purmeru limaria k’ pasa i un cabalu beju. Kada ki kontal storis di si manera. Lebri Kabalu obi tudu i kaba i fala lagartu):
- Come-o como é vosso hábito. O homem é muito ingrato; quando eu era novo, com todo o vigor, cuidava bem de mim. Agora faz de conta que não me conhece (Kumel, suma k’ bo kustuma ta fasi.. Pekadur ngratu di mas; ocan nobu ku forsa, i ta jubin ba diritu, gosi i ta fasi suma i ka kunsin).
Apareceu depois uma velha; ela ouviu as duas versões da mesma aventura, e disse logo ao crocodilo (Beja Bin na pasa; i obi storia tudu, i fala lagartu):
- Come-o; os homens são todos ingratos. Quando jovem e bela, o meu marido jurou-me que só haveria de me amar a mim. Agora casou com raparigas novas, e nem sequer olha para mim. Come-o, segundo as vossas tradições (Kumel; pekadurus tudu e ngratu; ocan nobu, n bunitu ba; ña omi jurmenta ba kuma ami sõ ki na kiri. Gosi i toma minjeris nobu; i ka ta jubin mas. Kumel suma k’ bo kustuma ta fasi).
O caçador estava desesperado, não vislumbrando nenhuma solução favorável à sua situação. Chegou a lebre; cada um lhe expôs a aventura a seu modo. A lebre disse (Montiadur foronta, i ka sibi ke ki na fasi. Lebri bin na pasa, kada ki kontal si storia. Lebri fala elis):
- Estais muito longe, disse-lhes a lebre; já estou velha e oiço muito mal. Vinde, pois, aqui à margem, para que eu vos oiça melhor (Bo sta lunju di mas; n beju gosi, ña oreja ka stan diritu; bo Bin li na roda di riu pa n obi bo storia).
Ambos saíram da água e chegaram perto da lebre a quem contaram de novo tudo. Disse-lhes a lebre (E sai, e ciga na roda di riu, e kontal tudu. Lebri fala elis):
- Custa-me acreditar. Como é que este homenzinho pôde carregar com um gigante como tu? Para dar o meu parecer é preciso eu ver com os meus olhos quanto estais a contar-me. Portanto, regressai à floresta; que o caçador te amarre de novo e traga até aqui (N ka fia e bo storia, n ka fia kuma es omi pikininu sin, pudi kargau, suma bu garandi sin. Sõ si n oja ku ña uju kuma kusasedu; sõ si bo riba na matu, montiadur marau mas, i kargau, i tisi).
O crocodilo e o caçador aceitaram. Quando chegaram à floresta, a lebre disse ao caçador para amarrar melhor o crocodilo e perguntou-lhe (Lagartu ku montiadur seta. Oca ke ciga na matu, lebri fala montiadur pa Mara lagartu mas inda; i puntal):
- A vossa casta não come crocodilo (Abos, na bo rasa o ka ta kuma lagartu)?
O caçador respondeu (Montiadur falal):
- Claro que comemos (No ta kumel)..
A lebre disse-lhe (Kil falal):
- Salvaste-lhe a vida, e ele quis comer-te; agora, leva-o para casa e comei-o em família; tu a tua mulher e os teus filhos (Bu salbal, i misti kumeu; gosi lebal kasa, bo kumel ku bu minjer, ku bu fijus).

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

P487 - SEMENTES E ÁGUA POTÁVEL PARA A GUINÉ-BISSAU

  


CAMPANHA DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS

Como tem sido anunciado A TABANCA PEQUENA - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau em parceria com CIVAS -Centro de Infância, Velhice e Acção Social - Senhora da Hora e LIONS CLUBE DA SENHORA DA HORA, vão promover um SARAU CULTURAL com o objectivo de angariação de fundos para a Campanha de Abertura de Poços de água potável em Tabancas (aldeias) do interior daquele País, onde as populações se deslocam 2/3 Km para obterem água (imprópria para consumo).

As febres, as diarreias e a Malária são a segunda causa de morte na Guiné-Bissau, sobretudo nas crianças com menos de cinco anos.

É uma questão de solidariedade a que não pudemos ficar alheios.

Com pequenos gestos podem-se salvar muitas vidas.

- Em resultado de campanhas anteriores já funciona em pleno um poço na Tabanca de Amindara

- Estamos a financiar a abertura de outro poço em Medjo.   
   Faltam-nos cerca de 2.000 €
    para o apetrechar com o equipamento necessário.

VEM PARTICIPAR NESTE EVENTO.

CONVIVES COM AMIGOS SOLIDÁRIOS
DIVERTES-TE E…

DEIXAS UMA MIGALHINHA QUE PODE COMPLETAR A PARTE QUE FALTA PARA MAIS UM POÇO

ACÇÃO – Almoço seguido de Sarau Cultural.

- Fado pela voz de Francisca Silva
- Momentos de poesia – Antigos combatentes - intercalados com a Guitarra de Pedro Pinto e a viola de Álvaro Basto
- Fados de Coimbra – grupo "Do Choupal até à Lapa"


DATA: 25 de Setembro

PREÇO: 15.00 € (mínimo)

LOCAL - Instalações do CIVAS à Av. Fabril do Norte, 717 –   
                Senhora da Hora

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FAZ A TUA INSCRIÇÃO ATÉ AO DIAS 20 DE SETEMBRO

e-mail: tabancapequena@gmail.com
Telm: 966238626 - Zé Teixeira
           967409449 - Zé Rodrigues


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

P486-Adeus Guiné



A canção «Adeus Guiné» fez 38 anos



A propósito deste aniversário, Jorge Ribeiro, nosso camarada tabanqueiro e membro da nossa associação, enviou para o blogue alguns dados interessantes. Diz ele que:
«Houve mais canções. Aliás, são largas dezenas os títulos que o tempo de Guerra produziu, mas a maioria é de qualidade mais que duvidosa. Isso não impediu, contudo, que algumas dessas canções se transformassem em grandes êxitos populares. Adeus Guinéfoi um deles, vigorou nos últimos dois anos na Guiné e há quem ainda hoje a procure na Net - para recordar...
Segundo o livro Marcas da Guerra Colonial, de 1999, onde se encontra o mais completo estudo sobre as Canções da Guerra, pode ler-se que apesar da extensa lista das canções deste tipo, é fácil detectar a utilização de apenas três grandes temas: 1) a despedida e a partida para a guerra; 2) a estadia na guerra, as saudades e o desejo de regresso; 3) a resposta aos apelos da Pátria e o cumprimento do dever».
Entende por «êxitos» aquelas canções que venderam mais discos e obtiveram mais projecção na rádio, e, intressado como escritor e veterano de guerra que é, Jorge Ribeiro destaca as canções «Eterna despedida», pelo Conjunto de Nel Garcia, «Eu vou-me embora», pelo Conjunto Típico Os Celtas, «Vou partir para Guiné» do Conjunto Típico Santo André, «Adeus Mãezinha até voltar», do Conjunto de Francisco Gouveia, «Adeus minha mãe, adeus» do Conjunto Típico Asas d’Ouro, «Adeus Querida Mãezinha» do Conjunto de Cerqueira Pinto, e «Despedida de um Soldado», do Conjunto Regional Costa Verde.
«Estes foram os verdadeiros tops de vendas em Portugal» - diz. «No entanto, o primeiro lugar ficou marcado por uma canção gravada em 1968 pelo Conjunto de Oliveira Muge, de Ovar: A Mãe, escrita por António Policarpo de Oliveira e Costa.
No segundo grupo, canções como Mãezinha não chores mais, dos Celtas, e Canção de um soldado, por Francisco Gouveia, acompanharam durante anos o cantarolar pelos aquartelamentos, quantas vezes picada fora. No terceiro grupo, o dos deveres a cumprir ou já cumpridos, merecem destaque as canções Alerta, Sentinela, por José Reis e a Orquestra de Resende Dias, Sou português de raça, pelo Conjunto Regional Estrela Dourada, que traduziam em termos simplistas a vontade, o orgulho e a satisfação de ir defender a Pátria. Também neste grupo, revela o livro que vimos a citar, o título Adeus Guiné, de Tony Correia (António Rodrigues Correia) obteve um sucesso desmesurado. Registou inúmeras versões pelos conjuntos de Armindo Campos [Ver aqui o que o nosso Albano Costa diz sobre o Conjunto Típico Armindo Campos], Mota e Costa, Alegria & Ritmo, José Nobre, Banda de Monção, e Conjunto de Miguel Oliveira. Qualquer actuação ao vivo e todos os programas de discos pedidos incluíam sempre Adeus Guiné - que agora completou 38 anos».
E dá-nos a letra do "Adeus Guiné" do Tony Correia:

Mas refere que, na internet, concretamente do blogue “reflexões e outras divagações", corre uma letra sobre o mesmo tema e com o mesmo título, que também suscita curiosidade:



Adeus Guiné

Adeus pessoal adeus malta
amanhã vou-me embora
esta guerra não faz falta
está chegando a minha hora

Adeus paquete Uíge
dias e noites a navegar
levaste-me do meu país
para terras de além-mar

Adeus Guiné e Mansoa
vou fazer a despedida
andei dois anos à toa
sem saber da minha vida

Adeus maldita guerra
arrastaste-me até aqui
és a coisa pior da terra
e eu não gosto de ti

Adeus amigos e companheiros
foram a minha família aqui
nestes tempos traiçoeiros
e durante o tempo que vivi

Adeus tempo que já passou
adeus vida embrutecida
que a mim também amassou
grande parte da minha vida

Adeus selva e capim
carreiros e baga-baga
tudo me roubaram a mim
nesta vida desgraçada

Adeus tristeza e solidão
adeus tabancas e sanzalas
quantas vezes rastejei no chão
para me proteger das balas

Adeus refeitório sem condições
adeus vagomestre e cozinheiro
serviam as piores refeições
para ficarem com o dinheiro

Adeus oficiais superiores
adeus comandante e graduados
vocês ganhavam louvores
nós éramos os desgraçados

Adeus capitão Barradas
despeço-me com um abraço
pelas lágrimas derramadas
que fluíram na sua face

Adeus cais de embarco
adeus cais da despedida
eu da guerra fiquei farto
para o resto da minha vida

Adeus aos que tombaram
pela Pátria a combater
para sempre lá ficaram
eu jamais irei esquecer